(O certo que
agiu errado)
O filho do qual
vamos discorrer um pouco agora é o tipo daquele “certinho”. Realmente era um
bom menino, um bom rapaz. Aprendera desde cedo a administrar a fortuna do pai
de maneira honesta e eficiente. Caseiro de natureza, nunca fôra dado às farras
com amigos. Do escritório para casa, o seu caminho mudava de direção somente
quando a namorada o esperava para curtirem aqueles momentos de um amor puro e
casto. Aos sábados a sinagoga, para o cumprimento do preceito religioso. Não
bebia, não fumava... Era o tipo de filho que qualquer pai ou mãe sonhariam ter.
Voltando do trabalho, pela tardinha, cansado e
sedento, ouve o som de música. Pára, apura os ouvidos... A atenção é redobrada.
É música mesmo. Sinal de festa. Um turbilhão de pensamentos passa pela sua
cabeça: “O que está acontecendo? Eu não
fui informado de nada!... Ou será uma visita importante que chegou
repentinamente e papai não teve tempo de me avisar? Ou então, será que esta festa
é em minha homenagem? Tenho trabalhado de sol a sol, a fazenda cresce a cada
mês, os investimentos estão sendo aplicados de maneira correta, graças a minha
capacidade de bem administrar... Vai ver que é isso!... Meu pai sensibilizou-se e preparou-me esta surpresa!” Quis
certificar-se para não cometer uma gafe qualquer, dirigiu-se a um capataz e
perguntou:
- Que festa é
essa? Tanta música, tanta dança...
- Não me diga
que só você não sabe! Até os empregados são sabedores.
- É que eu
estava trabalhando. Estou chegando neste momento.
- Teu irmão
voltou. A festa é pra ele. Teu pai mandou matar o novilho mais gordo,
presenteou-o com uma túnica nova, sandálias novas, um anel de ouro maciço...
Eh, é um festão!
Era demais!
Nunca esperara do pai uma postura deste nível! Aquele seu filho esbanjara tudo
com farras, orgias, meretrizes, dissipara todos os seus bens e era recebido com
festa. Homenageado. Presenteado. E ele... Não entrou. Jamais participaria
daqueles festejos. Sua moral não lhe permitia ser conivente com este tipo de
coisa. Permaneceu fora.
O pai, sabendo
do ocorrido, apressa-se e vai ao encontro do filho. Explica-lhe a sua atitude.
A volta do seu irmão era motivo de alegria e celebração. Que ele participasse
também desta comunhão.
Os argumentos
verbalizavam-se com entonações de mágoa, rancor e ressentimento:
- Eu estou aqui
todos esses anos com o senhor, nunca lhe dei trabalho, sempre cuidei do que é
seu com empenho e dedicação, no entanto nunca ganhei nem um só cabrito para
comemorar com os meus amigos. Este teu filho gasta tudo e é recebido com festa
e regozijo.
- Filho, tu
sempre estás comigo! Tudo o que é meu é teu. Podes usufruir de todos os meus
bens a qualquer hora e em qualquer tempo. Mas este teu irmão... Este teu irmão
estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado. Convém que cantemos,
dancemos, celebremos, alegremo-nos e façamos festa.
O texto de Lucas
15 termina por aqui. Talvez aquele filho tenha permanecido do lado de fora. Seu
coração cego de inveja não poderia aceitar que a misericórdia do pai se
derramasse sobre o seu irmão. Eximindo-se da participação do momento
celebrativo, isentou-se também da participação da misericórdia do pai,
porquanto “somente os misericordiosos
alcançarão misericórdia”.
Antonio Luiz Macêdo
Imagem Google
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