Não goste, ame! Pois somente o AMOR é capaz de construir o mundo. (Antonio Luiz Macêdo)..

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Dezoito anos de silêncio?


Biblicistas, teólogos e exegetas vasculham a Bíblia e documentos históricos sérios sobre essa lacuna da vida de Jesus e da família de Nazaré, e nada se encontra de verdadeiro e real. Podemos dizer que se trata de um mistério – uma realidade escondida. Busquemos algum direcionamento nas entrelinhas da Palavra de Deus.

O evangelista Lucas registra que aos doze anos de idade, na sua primeira visita ao Templo pela Festa da Páscoa, o Menino Jesus “perdeu-se”, e foi encontrado pelos pais três dias depois ensinando aos doutores da Lei e aos escribas. Ele conclui a narrativa revelando que “em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração. E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens”.

Aqui se encontra “o mistério” desvendado. Jesus voltou para a cidadezinha de Nazaré onde morava, e era obediente aos pais. Durante esses dezoito anos, José continuou a sua missão de provedor da família; Maria tratou de todas as tarefas relacionadas à mulher do seu tempo; enquanto Jesus crescia em idade, ajudando o seu pai em sua profissão; crescia em sabedoria espiritual tendo como mestra a mãe e os rabinos; crescia em graça porque aos poucos ia se descobrindo como Messias. Durante todo esse tempo permaneceu em Nazaré.

Cumpridor dos preceitos judaicos da Torá, não permitiu que esmaecesse em seu coração o desejo ardente de participar em Jerusalém, todos esses anos, das festas da Páscoa, das Tendas e das Primícias. Nos dias de sábado, a sinagoga era o seu refúgio, para aprofundar-se “nas coisas do Pai”.

Escritos apócrifos explicando esse grande intervalo de tempo em que o Evangelho nada menciona, criaram uma história fantasiosa de que Jesus teria voltado ao Egito para estudar na cidade de Alexandria, centro de referência cultural da época, em virtude da existência de sua famosa biblioteca. Se isso realmente fosse verdade, por que os moradores de Nazaré que o conheciam tão de perto se exprimiriam assim: “Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não vivem todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isso? E não sabiam o que dizer dele” (Lucas 13,55-57a).

Paz e Luz
Antonio Luiz Macêdo

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Ajuda adequada


A Sabedoria de Deus verdadeiramente excede as limitações e ambigüidades do pensamento humano. Quando na sua Onisciência a Trindade determinara que havia chegado o momento certo, foram pronunciadas aquelas palavras que ecoam desde toda a eternidade, expressão mais pura do Amor de um Deus que cria o Homem à sua imagem e semelhança, concedendo-lhe Inteligência, Vontade, Liberdade e Capacidade de Amar.

O Homem foi criado por Amor e para amar. Mas o amor não se fecha em si, não se encaracola, não se enverga para olhar o próprio umbigo. Ao contrário, sai de si ao Encontro do outro para dar-se, numa entrega que transcende a realidade visível do Ser.
Sendo assim, a quem o homem iria? Para que sairia de si, se não tinha a quem encontrar? Em meio a um jardim paradisíaco onde nada lhe faltava, um Nada lhe fazia muita falta. A falta sentida era tanta que a solidão apossou-se de seu coração e de sua alma, revelando-se através do olhar, dos gestos e das palavras, chegando à percepção do Senhor que exclamou: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada”. Deus permitiu que o homem sentisse esse vazio, essa solidão, essa tristeza, para que ele pudesse descobrir a verdade de não bastar-se a si mesmo. A partir daí, Deus criou a mulher.

Esta pedagogia que apresentamos se faz necessária para uma melhor compreensão das idéias expressas na Bíblia, principalmente no que diz respeito à complementaridade e sexualidade humanas. A Ajuda Adequada reveste-se, neste aspecto, de peculiaridades e nuances que trazem o molde de complementação para o homem.

A complementaridade física da Mulher está maravilhosamente descrita nas palavras do Homem, e manifestada nas suas emoções e sentimentos: “Esta sim, é osso dos meus ossos, e carne da minha carne”. O Encontro agora pode ser realizado; a expressão “os dois serão uma só carne”, será vivenciada dentro de um contexto de complementaridade e na doação mútua; “sede fecundos e multiplicai-vos” fará dos dois cooperadores de Deus na geração da vida.

Mulher e homem são o encaixe um do outro. Encaixam-se, por assim dizer, sobretudo na dignidade, que faz dos dois, obra prima saída das mãos do Criador. Imagem e semelhança de Deus, mulher e homem nos revelam dois atributos relevantes de El-Shaddai: ele, como nós, é Pai e Mãe, mais Mãe do que propriamente Pai. Salve a mulher!

(Gênesis 2,18)

Paz e Luz
Antonio Luiz Macêdo

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domingo, 29 de dezembro de 2019

A divinização do Amor Conjugal


Após Deus criar o Homem e a Mulher, Ele os abençoou e disse: "Por isso o homem deixa pai e mãe, se une à sua mulher e serão uma só carne". Uma só carne! É a bênção do Criador que diviniza o Amor Conjugal. E aqui está configurada a pré-figuração do Sacramento do Matrimônio.

Através deste Sacramento ocorre a divinização. No momento em que o casal se doa um ao outro totalmente - CORPO, ALMA E CORAÇÃO - no mais belo de todos os instantes, os dois tornam-se cooperadores do Criador na geração da Vida.

E então a aritmética do céu contraria a aritmética da terra. 1+1=3 - Homem+Mulher+Deus.

Paz e Luz
Antonio Luiz Macêdo

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sábado, 28 de dezembro de 2019

“Eu pedi tanto e Deus não me ouviu!”


Deus sempre ouve as nossas orações, os nossos pedidos. É Jesus quem nos diz: ‘Pedi e recebereis’. É promessa. É fato. É verdade. O que acontece é que a sua maneira de atender-nos, difere imensamente da maneira que almejamos ser atendidos. Esta é a única e grande diferença.

Ou você pensa que ao pedir a Deus um pão, Ele lhe dará um pão? Pode dar ou não. Depende de sua maior necessidade naquele instante. Se a pedra lhe for muito mais útil, a pedra virá. Deus é Pai, não é paternalista. Deus cuida de você, cuida de mim, desde que façamos a nossa parte. Quem sabe se a sua parte naquele momento não era ‘dinamitar’ a pedra, vender a brita, e com o dinheiro adquirido, comprar o pão? Quem sabe se Deus não queria que você descruzasse os braços, saísse do comodismo, e partisse para a luta? Ele quer preservar a sua dignidade. Ele quer dizer: ‘Você pode. Você tem condições. Você é meu filho, minha filha’.

Eu digo a você: ‘Nunca deixe de pedir ao Senhor. Peça pão, peixe, ovo, o que você quiser. Peça insistentemente. Saiba, todavia, que se o Senhor não lhe der o que pediu, Ele deixou de escutar a sua súplica. Não. Ele ouviu a sua oração, mas lhe atende de acordo com a sua necessidade. Mais do que Deus, Ele é Pai’.

Paz e Luz
Antonio Luiz Macêdo

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

“O homem, imagem de Deus amor“


NOS PASSOS DE SÃO JOÃO PAULO II


 “Deus criou o homem à sua imagem e semelhança(20): chamando-o à existência por amor, chamou-o ao mesmo tempo ao amor”.


O casal deve guardar profundamente no coração, a fim de que possam testemunhar

e falar para os filhos, que o Homem e a Mulher constituem a obra-prima de Deus. por isso Ele os criou à sua imagem e semelhança. Qual o significado desta expressão?

Na sua primeira Carta, São João escreve no capítulo 4, versículos 8 e 16 que Deus é amor. Ora, sendo Amor, Deus só sabe exclusivamente amar; consequentemente fomos criados por AMOR  e para AMAR. Então somos imagem de Deus. É como se olhássemos para um espelho e em vez de vermos a nossa imagem, víssemos Deus.

Criou também o Homem e a Mulher à sua semelhança. E o que significa ser semelhança do Criador?

Deus é único, mas não é solitário. Deus é Pai, e Filho, e Espírito Santo. Deus é uma FAMÍLIA. Uma Comunidade Familiar onde o Espírito Santo é o elo de Amor entre o Pai e o Filho, o Filho e o Pai.

Qual a conclusão de tudo isso? O casal foi criado para Amar em primeiro lugar no coração da Família. Família que muitos pensam que somente existe com a presença de filhos. Não. Mesmo sem filhos o casal constitui uma Família.

Portanto, lutemos a favor das Famílias, porque “o futuro da Humanidade passa pela Família”, no dizer de São João Paulo II


Fonte: Familiaris Consortio

Paz e Luz
Antonio Luiz Macêdo

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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Ain Karin, - onde o Espírito se derramou!


Quando se está plenificado do Espírito Santo, ele provoca em nós um desejo de nos desinstalarmos, de sairmos de nós mesmos em direção aos irmãos. Com Maria não poderia ter sido diferente. Após aquela “lua-de-mel” espiritual indescritível, ela parte às pressas para Ain Karin1, na Judéia. Sim, na Anunciação o anjo dissera: Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível” (Lc 1,36-37).
O Espírito Santo tem pressa. Ele não pode esperar. A disponibilidade para servir é dom exclusivamente dele e necessita ser posto em prática o mais rápido possível.
   
Não sabemos quanto tempo durou o percurso; o que sabemos é que durante todo aquele trajeto, a esposa do Espírito Santo esteve submetida aos cuidados e desvelos do Pai, porque conduzia no seu ventre – âmbula divina e ostensório sagrado – o Filho de Deus feito gente.
  
 Quando chegou à casa de Zacarias, entrou e saudou Isabel” (Lc 1,40). O que haveria de extraordinário naquela saudação? Tratava-se do cumprimento normal utilizado pelo povo judeu desde épocas imemoriais. Isabel não viu Maria; apenas ouviu a sua saudação: “Shalom! Shalom!2 E tudo mudou!
   
Zacarias3 e Elisabeth4 (Isabel) eram casados há muitos anos. Sonhavam com um filho, mas Isabel era estéril. Faltava apenas o fruto desse amor para que ele fosse plenamente realizado. Agora com a idade avançada, o sonho e a esperança  desvaneciam-se como o sol que desaparece lentamente no ocaso.
   
Um dia em que exercia as funções sacerdotais, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar e lhe disse: _Não tenhas medo, Zacarias, porque o Senhor ouviu o teu pedido! Isabel, tua esposa, vai te dar um filho e tu lhe porás o nome de João5. Ficarás alegre e feliz e muitos se alegrarão com o seu nascimento. Ele será grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem bebida fermentada e desde o ventre da mãe ficará cheio do Espírito Santo.” (Lc 1,11.13-15).
Porque duvidou em seu coração, Zacarias ficou mudo. Algum tempo depois, sua esposa Isabel ficou grávida e permaneceu escondida durante cinco meses” (Lc 1,24).
 Isabel refugiou-se, escondeu-se na casa da serra. Seria demais aparecer diante das amigas naquele estado. Com aquela idade, o que não iriam pensar? E os comentários que infalivelmente correriam de boca em boca? A vergonha, a depressão pelo isolamento, a apreensão, foram maiores do que o sonho de ser mãe. Isabel não era feliz!
   
É com estes sentimentos perpassados pela sua sensibilidade que ela ouve a saudação. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo” (Lc 1,41).
É interessante notar que aqui se cumpre a profecia do versículo quinze: o menino fica cheio do Espírito Santo e regozija, pulando de alegria no ventre de sua mãe. Por sua vez, Isabel fica repleta do Espírito Santo. E aí, tudo muda; porque o Espírito Santo é aquele que “faz novas todas as coisas”. Isabel, antes tímida, fraca, recatada, depressiva, triste, medrosa, envergonhada de sua gravidez, agora “exclama com voz forte: _Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42). Que transformação! Que diferença radical o Espírito Santo pode realizar naqueles que são dóceis à sua presença! Isabel não sabia que Maria estava grávida e muito menos que o seu ventre gerava o Filho do Altíssimo.  E por que reconhece Maria como bendita, bem-aventurada, feliz entre todas as mulheres de todos os tempos e de todos os lugares? E mais: Por que ela sabe que o fruto que Maria traz em seu ventre é bendito, se aquela barriguinha ainda não dá mostras visíveis de gravidez? Ela não sabe de nada, mas o Espírito Santo a inspirou se derramando abundantemente sobre ela e acordando “a voz que um dia, clamaria no deserto”.
A presença de Maria, grávida do Salvador pelo poder do Espírito, por si só é fonte de renovação, de restauração e de ressurreição. Isabel não era mais a mesma. A casa de Zacarias não era mais a mesma. O clima era outro, o relacionamento era outro. Respirava-se alegria, paz, esperança. A fé havia sido reavivada, o amor era mais amor. Enfim, a vida nascera outra vez. E numa efusão de contentamento que assomava todo o seu ser, Isabel exclama: Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,43-45).
   
Maria se faz silêncio. Não entende o que está acontecendo, mas guarda essas coisas no coração. Se Lucas tivesse registrado pormenorizadamente este encontro entre os limiares do Antigo e do Novo Testamento, talvez houvesse incluído o pensamento da Mãe:
_Isabel, eu sou apenas a mãe, mas ele é tudo. A visita que transformou tua vida e tua casa foi ele quem realizou. Ele é o meu Senhor, o teu Senhor, o nosso Senhor. Nunca teremos merecimento para que ele venha até nós. Tudo é graça, é dom, é presente que ele nos quer ofertar: até a sua presença. A saudação que ouviste não foi minha, somente emprestei minha voz para que o Espírito Santo te saudasse por mim. Por isso não me viste, porquanto era ele quem falava pela minha voz. Quero agora te confessar uma coisa: na realidade eu sou feliz! Muito feliz! Meu coração transborda de alegria; todo o meu ser exulta de felicidade; meu corpo, minha alma e meu espírito rejubilam. Isabel, minha irmã, sinto a minha vida inundada de sustenidos e bemóis que compõem a mais bela de todas as sinfonias.
Maria então cantou: A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta de alegria em deus meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me proclamarão bem0aventurada porque fez em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1,47-49).
   
As primeiras estrelas surgiam num céu extremamente azul. Timidamente a lua se levantava por trás da montanha. Os pássaros se recolhiam sorrateiramente. E naquela noite, quando o tempo se fez silêncio, poderia ser ouvida nitidamente a voz de todos os anjos repetindo em coro, com Maria: “A minha alma engrandece o Senhor...o Senhor é poderoso... o Senhor é Santo”. E Ain Karin dormiu em paz.
Paz e Luz
Antonio Luiz Macêdo

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1 Vilarejo situado nas montanhas da Judéia onde Isabel se refugiara com vergonha da sua gravidez. Distava 150 km de Nazaré.
2 Palavra hebraica que significa paz, saúde, prosperidade, salvação. Quando o judeu diz Shalom, está desejando tudo de bom para você.
3 Significa o Senhor se lembrou.
4 É traduzido como Deus jurou.
5 Yohanan significa o Senhor concede graça.
 


quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Belém, onde o amor nasceu!


Naquele tempo a profecia de Miquéias1 reacendia-se em todo o território da Palestina. É como se aquela lembrança determinasse a proximidade de um acontecimento extraordinário: “Mas tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel” (Mq 5,1).
   
Deus se serve até dos tiranos para realizar os seus projetos. Sem o saber, Augusto, o imperador romano, estava contribuindo sobremaneira para que o plano de Deus viesse a se concretizar.
   
“Naqueles dias saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra” (Lc 2,11). A razão era simples: saber o número de habitantes para poder controlar melhor a arrecadação de impostos. A evasão de rendas e a sonegação constituíam “no calcanhar de Aquiles” do orçamento imperial. Cada um estaria obrigado a registrar-se na sua cidade natal. “Também José que era da família e da descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2,4-5).
   
Para um casal que ama, a distância por menor que seja, ou o tempo por mais curto que se apresente, toma ares de eternidade. E quando a esposa está grávida?!... Nunca passou pela cabeça de José deixar Maria em Nazaré e seguir sozinho até Belém. Não a deixaria jamais! E sabendo que o seu amor levava consigo no ventre o Amor Maior, sua intenção robustecia-se e a certeza se firmava solidamente.
_Maria! Maria! Levanta amada minha! Os primeiros raios da manhã se derramam sobre os campos; as romãzeiras são banhadas pelo orvalho da madrugada; as aves do céu ressoam cantos de alegria saudando a manhã que nasce; e as flores dos campos, em roupas de noite, exalam o perfume colhido das estrelas. Maria!... José continua com o Cântico dos Cânticos.
“Levanta-te, minha amada,
minha bela e vem!
O inverno passou,
as chuvas cessaram e já se foram.
aparecem as flores no campo,
chegou o tempo da poda,
a rolinha já faz ouvir seu canto
em nossa terra.
A figueira produz seus primeiros figos,
soltam perfumes as vinhas em flor.
Levanta-te, minha amada,
minha bela e vem!
Minha rolinha que moras nas fendas das rochas,
no esconderijo escarpado,
mostra-me o teu rosto,
e a tua voz ressoe aos meus ouvidos,
pois a tua voz é suave
e o teu rosto é lindo!” (Ct 2,10-14).
Pela porta entreaberta uma brisa suave toca o seu rosto. Maria acorda. A manhã já vai alta quando iniciam a viagem.
   
Quatro, cinco ou mais dias os separam de Belém. A gravidez dificulta muito a marcha. Ora a pé, ora sentada no burrico... As dores provocadas pelo desconforto não tardam a chegar. A oração e as palavras de carinho e incentivo de José, a reconfortam, trazendo novo alento. Estão próximos. Já se podem vislumbrar do alto as primeiras casas da cidade. As energias se renovam. Mais uns dois quilômetros...
   
As hospedarias de Belém estavam lotadas. Emigrante em Nazaré há muito e muito tempo, José perdera o contato com familiares (se é que ainda os tinha por lá). E agora? Maria queixava-se das contrações que se amiudavam. O que fazer? Homem de fé e esperança, José não se intimida. Ergue os olhos ao céu e recita o Salmo 121, na primeira pessoa do plural: “Levanto os olhos para os montes: de onde nos virá auxílio? Nosso auxílio vem do Senhor que fez o céu e a terra. Não deixará nossos pés vacilarem. Aquele que nos guarda não dorme. Não dorme nem cochila o vigia de Israel. O Senhor é o nosso guarda; o Senhor é como a sombra que nos cobre e está à nossa direita. De dia o sol não nos fará mal, nem a lua de noite. O Senhor nos preservará de todo mal, preservará nossa vida. O Senhor vai nos proteger desde agora e para sempre”. A voz de Maria irrompe: _Amém! Amém!
   
O Senhor vem em auxílio de José. Ele lembra que nos arredores de Belém existem grutas onde os animais são recolhidos durante o inverno. Pelo menos, longe do burburinho da cidade, embora sem nenhum conforto, Maria estaria em paz.  Mais alguns passos e a gruta surge à sua frente. “Quando estavam ali chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura” (Lc 2,6).
   
Jesus não se prevaleceu de sua condição divina. Sendo Deus humilhou-se, revestiu-se de nossa carne e de nossas limitações para armar sua tenda no meio de nós. O Rei tem como palácio uma estrebaria, tem como berço um cocho; tem como enxoval pedaços de pano. Humilhou-se para nos exaltar e empobreceu-se para nos enriquecer. Humanizando-se nos divinizou para lembrar que o nosso corpo é santo e é Templo vivo do Espírito Santo.
Seu nascimento não foi revelado a reis, príncipes e rainhas. Nasceu no silêncio de uma noite de um céu extremamente azul e salpicado de estrelas. Deixou-se revelar aos simples, aos pobres, aos marginalizados. “Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho” (Lc 2,8). Foi a eles que o Senhor determinou fosse dada a Boa Notícia. A notícia acalentada há milênios em todos os corações da terra de Israel. “Um anjo do Senhor lhes apareceu e a glória do Senhor os envolveu de luz: _Eu vos anuncio uma grande alegria que será também a alegria de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasdceu para vós o Salvador que é o Cristo Senhor!” (Lc 2,10-11).
   
As insígnias dadas pelo anjo como sinal do Senhorio de Jesus e como marca de que ele é o Salvador, de nada adiantariam se não fossem anunciadas pelo mensageiro do céu. Eles esperavam um rei, filho de rei, neto de rei. E como poderia um rei ser envolto em faixas e deitado numa manjedoura? Tinham que conferir. Levantaram-se e foram a Belém. Enquanto seguiam, miríades do exército celeste entoavam hinos de louvor a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos que são do seu agrado!” (Lc 2,14).
Chegando apressadamente a Belém, encontraram o menino como o anjo havia dito, junto de Maria e de José. Contaram-lhes o que havia sido dito a respeito dele e voltaram para o campo, louvando e glorificando a Deus. “Maria, entretanto, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19).

Paz e Luz
Antonio Luiz Macêdo

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