Virtudes Cardeais
Virtudes cardeais quer dizer virtudes centrais,
fundamentais, orientadoras. É o mesmo que virtudes morais. São quatro como
quatro são os pontos cardeais, as estações do ano, os lados da cruz, os
alicerces da casa, os pés da mesa e da cama. A quaternidade para Jung é símbolo
da perfeição. Eis as virtudes:
1 - Prudência
É o reto agir, o bom senso, o equilíbrio. Cuida do
lado prático da vida, da ação correta e busca os meios para agir bem. Prudência
é o mesmo que sabedoria, previdência, precaução. O prudente é previdente e
providente. É pessoa que abandona as preocupações e abraça as soluções. Deixa
as ilusões e opta pelas decisões. Rejeita as omissões e se empenha nas
ocupações. O lema dos prudentes é: “Ocupação sim, preocupação não.” A prudência
coloca sua atenção na preparação dos fatos e eventos e nunca na precipitação
nem no amadorismo ou improvisação. Ciência sem prudência é um perigo.
2 - Temperança
É o auto-controle, auto-domínio, renúncia,
moderação. A temperança ordena afetos, domestica os instintos, sublima as
paixões, organiza a sexualidade, modera os impulsos e apetites. Abre o caminho
para a continência, a castidade, a sobriedade, o desapego. É próprio da
temperança o cuidado conosco mesmo, com os outros e com a natureza. A
temperança não permite que sejamos escravos, mas livres e libertadores e nos
encaminha para o cumprimento dos deveres e para a maturidade humana. Sem
renúncia não há maturidade. Grande fruto da renúncia é a alegria e a paz.
3 - Fortaleza
Faz-nos fortes no bem, na fé, no amor. Leva-nos a
perseverar nas coisas difíceis e árduas, a resistir à mediocridade, a evitar
rotina e omissões. Pela fortaleza vencemos a apatia, a acomodação e abraçamos
os desafios e a profecia. É virtude dos profetas, dos heróis, dos mártires e
dos pobres. A fortaleza dos mártires e a ousadia dos apóstolos, como também a
força dos pequenos e dos fracos é um sinal do dom da fortaleza na vida humana e
na história da Igreja. Hoje a fortaleza nos leva a enfrentar a depressão, o
stress, o câncer, a AIDS, os golpes da vida. Grandes são os conflitos humanos,
porém maior é a força para superá-los. A vida é luta renhida, dizia nosso poeta
e a fé é um combate espiritual. “Coragem, Eu venci o mundo!” (Jo 16,33).
4 - Justiça
Regula nossa convivência, possibilita o bem comum,
defende a dignidade humana, respeita os direitos humanos. É da justiça que
brota a paz. Sem a justiça nem o amor é possível. É a virtude da vida
comunitária e social que se rege pelo respeito à igualdade da dignidade das
pessoas. Da justiça vem a gratidão, a religião, a veracidade. Não se pode
construir o castelo da caridade sobre as ruínas da justiça. Pelo contrário, o primeiro
passo do amor é a justiça, porque amar é querer o bem do outro. A justiça é
imortal (Sab 1,15). Esta virtude trata de nossos direitos e nossos deveres e
diz respeito ao outro, à comunidade e à sociedade.
Virtudes Teologais
As virtudes podem ser HUMANAS e TEOLOGAIS. Nós
cultivamos e usamos as virtudes humanas para conviver bem com as outras
pessoas, no meio da nossa família, na nossa comunidade e no mundo, enfim.
Também devemos cultivar as virtudes teologais no nosso relacionamento com Deus.
Quando recebemos o sacramento do Batismo é
infundida em nós a graça santificante, que nos torna capazes de nos relacionar
com a Santíssima Trindade e nos orienta na maneira cristã de agir. O Espírito
Santo se torna presente em nós, fundamentando as virtudes teologais, que são
três: FÉ, ESPERANÇA E CARIDADE.
1 - A Fé
Cultivando a fé, acreditamos no Deus Criador, que é
o Pai, no Deus Salvador, que é Jesus Cristo e no Deus Santificador, que é o
Espírito Santo. Cultivando a fé, compreendemos que o Altíssimo é uno e trino e
que tudo isso nos foi revelado nas Sagradas Escrituras. Cremos, então, que Deus
é a verdade.
No dia a dia, nós usamos muito a fé. Temos fé nas
pessoas, às vezes até em pessoas em quem não sabemos se podemos confiar. Por
exemplo: ninguém pode ser testemunha do seu próprio nascimento, mas a fé que
nós cremos nos pais ou no cartório que fez o registro nos faz acreditar na data
e no local do nosso nascimento. Do mesmo modo, quando entramos em um ônibus ou
em um avião, acreditamos que o motorista ou o piloto são habilitados para nos
transportar e nós nem os conhecemos, mas acreditamos neles.
E Deus, que criou todas as coisas e nos deu a
faculdade de pensar, de raciocinar, de acreditar? Temos muito mais motivos para
acreditar n'Ele, para confiar n'Ele, para nos abandonar livremente em Suas
mãos.
A fé que devemos cultivar em relação a Deus é muito
mais segura do que a fé que naturalmente temos nas pessoas. Assim, pela fé,
cremos no Todo-poderoso e em tudo o que Ele nos revelou. Ele se revela sempre a
nós. Primeiro pelos Profetas, depois, através de seu Filho, que é a Sua
Palavra. Ele se revela também através do testemunho dos Apóstolos. E,
constantemente, através dos acontecimentos da história da humanidade e da
história de cada um de nós.
A criança tem uma fé sem limites na mãe, desde
muito pequena, porque foi ela quem a gerou, a amamentou, ensinou-lhe a andar e
a falar.
E Deus, que preparou um mundo maravilhoso para nós
e nos colocou como centro desse mundo?... É forçoso que confiemos n'Ele, com
total confiança. Precisamos procurar conhecer a vontade do Pai e realizá-la em
nós, porque, como diz São Paulo, em sua Carta aos Gálatas (cf. Gl 5,6), a fé
age por amor.
Mas não basta que nós cultivemos a fé. Esta, quando
verdadeira, exige ação. Quando temos um amigo, não basta que gostemos dele.
Devemos dar-lhe atenção, ajudá-lo quando necessário e possível, e ajudar também
as pessoas que ele ama. Se não for assim, a amizade e a confiança não são
verdadeiras.
Com Deus, é do mesmo modo. De que adianta a pessoa
acreditar n'Ele e não fazer nada para melhorar o mundo que Ele criou com tanto
amor? Madre Teresa de Calcutá dizia: "Eu sei que o meu trabalho é como uma
gota no oceano, mas, sem ele, o oceano seria menor". E São Tiago, em uma
carta, nos diz que "a fé sem obras é morta "(cf. Tg 2,26).
A fé nos leva, portanto, a praticar a justiça em
tudo que fazemos.
2 - A Esperança
A Esperança é a virtude que nos ajuda a desejar e a
esperar tempos melhores em nossa vida aqui na terra e a ter a certeza de que
conquistaremos a vida eterna, que será a nossa felicidade.
Muitas vezes, passamos por momentos difíceis e
achamos que nossa vida não tem solução. O mundo hoje está muito violento e
cheio de catástrofes. A cada dia, assistimos na televisão e até bem perto de
nós, cenas de maldade, agressões, violência. E assistimos também a tragédias
provocadas por desastres da natureza.
Precisamos refletir sobre tudo o que está
acontecendo, encontrar onde está a falha e buscar uma solução. Sozinhos, não
somos nada, mas, com Deus, tudo podemos. A esperança nos leva a tentar vencer
os obstáculos.
Há poucos dias, um fato nos chamou a atenção. Houve
um tremor de terra no Haiti e 70% dos prédios da capital se desmoronaram. Um
repórter conseguiu mostrar que, em meio à quase completa ruína de uma igreja
católica, restou intacta, a imagem do Cristo Crucificado. Tudo quebrado no chão
e ela lá, em pé, fulgurante, como a mostrar que Ele está presente junto ao povo
sofrido. Esta cena é muito significativa. Pode-se compreender muita mensagem de
Deus para nós. Precisamos aprender a escutar a voz do Pai. Cada um, no seu
coração, vai interpretar, a seu modo, fatos como este, tão significativos.
No Antigo Testamento, a esposa de Abraão era
estéril, mas o Senhor lhe prometeu uma descendência mais numerosa do que as
estrelas do céu e todo o povo de Deus constitui a sua descendência, porque
Sara, sua esposa, concebeu na velhice e gerou seu filho, Isaac.
No Novo Testamento, o anjo do Senhor anunciou a Virgem
Maria que ela seria Mãe de um rei. E ela, de início sem compreender o que anjo
falara, se prontificou a cumprir a vontade do Pai. Sofreu muito, meditando tudo
no silêncio do seu coração. Esperou, esperou contra toda esperança e foi
elevada aos céus e coroada Rainha dos anjos e dos santos, Mãe de Deus e Mãe da
humanidade.
Seu Filho não foi aquele rei rico em coisas
materiais, como nós imaginamos, no nosso mundo serem os reis. Mas Ele mesmo
disse: "O meu reino não é deste mundo". E Ele é o Rei dos Reis e ao
som do Seu nome se dobram todos os seres do céu, da terra e sob a terra. Somos,
por meio de Cristo, herdeiros da esperança de vida eterna.
3 - Caridade
A Caridade é amor. São palavras sinônimas. A
Caridade não é somente procurar uma moedinha no fundo da bolsa e jogá-la na
latinha de quem pede. A Caridade não é somente ofertar um prato de comida a
quem tem fome. A Caridade não é somente tirar do nosso guarda-roupa um vestido,
uma blusa, um sapato ou qualquer objeto que não usamos mais e dar a quem nada tem.
A Caridade é amor. É conhecer a dor da pessoa que vive perto de nós, quer seja
na nossa família, na comunidade ou mais distante. Conhecer a sua dor e procurar
com ela resolver o seu problema.
A Caridade é dar um "bom-dia!", é sorrir
para uma criança indefesa, para um jovem, às vezes desorientado, para um idoso
que carrega seu fardo com dificuldade.
A caridade, o amor é a virtude perfeita. Neste
mundo, precisamos ter fé, esperança e amor. Precisamos ter fé e esperança
porque aqui estamos caminhando nas trevas, isto é, acreditamos em algo que não
vemos com os nossos olhos humanos e limitados. Mas cremos na aurora que
dissipará essas trevas e, quando alcançarmos a vida eterna, a fé e a esperança
já não serão necessárias, porque já estaremos diante do Pai.
Entretanto, o amor permanece, porque Deus é amor e,
se estamos diante d'Ele, também somos amor.
Por isso é que São Paulo, em sua Primeira Carta aos
Coríntios, termina o capítulo 13 dizendo: "Agora, portanto, permanecem
três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas é o amor".
Fonte: Católico Orante
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