I
NTELIGENTES E ECUMÊNICOS
Encantam-me os teólogos. Há padres e pastores,
doutores em Teologia. Não sou um deles. Deus me deu o dom de comunicar
razoavelmente bem e acabei enveredando pela Ciência da Comunicação que tem sido
uma das minhas ocupações como sacerdote nesses últimos 40 anos. Mas esta semana
fiz uma prece a Jesus para que tocasse algum doutor em Comunicação, dos poucos
mas excelentes que temos, para que, à semelhança do excelente teólogo
evangélico suíço Karl Barth, escrevesse um livro Fé em busca de
Comunicação.
Nos evangélicos Karl Barth, Rudolf Bultmann, e nos
católicos Hans Urs von Balthazar, Karl Rahner, percebe-se um sadio ecumenismo,
feito de respeito face ás diferenças e de afeto fraterno ante as semelhanças.
Tinham a coragem de discordar, mas um respeitava a busca e a procura do outro.
Com mais de 500 obras Karl Barth se debruça no seu livro Fé em Busca de
Compreensão, que reputa fundamental na sua vida. Nele o autor evangélico
analisa o Santo pensador Anselmo de Cantuária (1033-1109) e o destrincha,
tomado de admiração por esse bispo católico. Hans Urs von Balthazar, católico,
ele mesmo um grande escritor e teólogo, se confessa leitor e admirador de
seu irmão evangélico. Trocam idéias e gestos fraternos. Barth sabe que seu
grande amigo e filósofo Heinrich Scholz pensa diferente e espera objeção
dele, mas leva os leitores e esperarem um livro do lúcido pensador que talvez
até escrevesse contra as suas ideias.
Era ecumenismo da melhor qualidade! Isso, entre os
anos 1930-1966. Coerente, combateu o nazismo e o fascismo, o comunismo e o
capitalismo; foi exilado, mas em nenhum momento deixou de comunicar teologia e
de dialogar com irmãos dos mais diversos credos.
É por isso que pedi ao Senhor que inspirasse algum
dos nossos cultos e lúcidos doutores em teologia, sociologia e comunicação para
que analisassem essa fúria autofágica e destrutiva dos grupos cristãos de hoje
que, cheios de poder e de instrumentos de comunicação, atingem milhões de
pessoas, mas não para aproximá-las dos irmãos de outra fé. Antes,
isolam-nas! Que estão comunicando, percebe-se! Mas o quê? Com que
conteúdo? Com que finalidade? Com que caridade? Com que disposição para diálogo
fraterno?
O belíssimo livro do evangélico Karl Barth
sobre um santo católico de muito antes de Reforma; seus diálogos com outros
teólogos que dele discordavam, mas que o respeitavam e por ele eram
respeitados, mostram o alto nível dos pensadores daqueles dias de guerra e terror
na Europa. Vários deles falaram claro, como cristãos. Arriscaram a vida
com a sua teologia. Um apoiava o outro e juntos defendiam a vida e o direito à
liberdade. Eram libertadores. Não tinham nem rádio nem televisão às mãos, e
pouca gente sabe o quanto eles quiseram caminhar juntos em Cristo.
Recomendo a quem ainda não o leu. Karl Barth
esposou o lema de Anselmo: Credo ut intelligam. Deveríamos todos fazer o
mesmo: crer para entender. Como está, o que mais se percebe é o oposto.
Pregadores de agora já têm tanta certeza que até marcam hora para ressurreições
e milagres nos seus templos. Dispensam o diálogo e o desejo de entender a
própria fé e menos ainda, a dos outros. Enquanto Barth se abriu num meio
fechado, milhares de pregadores de agora fecharam-se nos seus meios abertos!…
Que pena!
#UmSóPastor
Ecumênico
Fonte:
Site do Padre Zezinho
Imagem
Google
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