Era um preceito em Israel. A Lei de
Moisés determinava que todo filho do sexo masculino seria apresentado e
consagrado ao Senhor, no Templo de Jerusalém, após quarenta dias do nascimento.
Neste período a mãe também realizava a sua purificação, já que o parto, pela
perda de sangue, deixava a mulher impura.
A família chega ao Templo. A apresentação do menino
Jesus é ritualizada. A purificação de Nossa Senhora, também. Como judeus
autênticos e zelosos das coisas de Iaweh, sentiam-se alegres pelo dever
cumprido.
Neste momento, impelido pelo Espírito Santo, o
velho Simeão, homem ajustado à vontade de Deus, diligente e cheio de esperança,
toma o meninos nos braços e pronuncia em voz alta uma oração profética: “Os meus olhos viram a vossa salvação”.
Nas palavras deste homem de Deus repousa toda a esperança de Israel. Aquele
menino é a salvação, é o Salvador, é o Ungido do Senhor. E os seus olhos
brilham de uma alegria sem par; seu coração rejubila; sua alma aquieta-se,
porque agora pode partir em paz.
Suas palavras continuam. São palavras de Sabedoria
e de Ciência, reveladas pelo Espírito de Deus. “Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino
está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em
Israel, e a ser um sinal de contradição”.
A queda e o soerguimento resumem-se de forma
maravilhosa no Sermão do Monte, onde a teologia dos contrários nos mostra a
impenetrabilidade de Deus. Os pobres, os que choram, os mansos, os que têm fome
e sede de justiça, os puros de coração, os misericordiosos, terão a sua
recompensa. No Magnificat Maria confirma antecipadamente esta profecia, quando
diz: “Derrubou do trono os poderosos e
exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os
ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme
prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre”.
Mas este menino também seria sinal de contradição.
Contradição contra a estrutura reinante, contra a opressão, contra a acepção de
pessoas, contra a corrupção reinante, contra a miséria, contra a desigualdade
social, contra a casta dos sacerdotes, dos fariseus, anciãos e saduceus. José e
Maria admiravam-se de todas estas coisas. Não entendiam. Guardavam em seus
corações.
Senão totalmente, pelo menos parcialmente Maria
compreendeu a espada de dor. Em meio de uma sociedade trucidada e manipulada
pelos romanos, quem se atrevesse a querer mudar ou criticar as estruturas de
então, sabia-se muito bem o que o esperaria: a morte de cruz. Naquele instante em que Simeão pronunciava
estas palavras, estava sendo cravada no coração de Maria, a espada da dor:
Paixão e Morte de Jesus. E ali começa o caminho do Calvário.
Antonio Luiz Macêdo
Imagem Google
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