Nova Iorque (RV) – “Deus vive nas nossas cidades,
a Igreja vive nas nossas cidades e quer ser fermento na massa, quer misturar-se
com todos, acompanhando a todos, anunciando as maravilhas d’Aquele que é
Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”.
O Papa Francisco concluiu o quarto dia de sua
visita aos Estados Unidos presidindo a celebração da Santa Missa pela paz e a
justiça no Madison Square Garden, “lugar emblemático desta cidade, sede de
importantes encontros desportivos, artísticos, musicais, que congregam pessoas
de diferentes partes, e não só desta cidade, mas do mundo inteiro. Neste lugar,
que representa as diferentes faces da vida dos cidadãos que se reúnem por
interesses comuns”.
A homilia proferida em espanhol, inteiramente
inspirada na passagem do Profeta Isaías “O povo que caminhava nas trevas viu
uma grande luz”, foi ambientada em um contexto urbano atual, onde “o povo que
caminhava, o povo no meio das suas atividades, das suas ocupações diárias; o
povo que caminhava carregando seus sucessos e erros, seus medos e
oportunidades, viu uma grande luz. O povo que caminhava com as suas alegrias e
esperanças, com as suas decepções e amarguras, viu uma grande luz”. “E o povo
de Deus – afirmou Francisco - é chamado, em cada época, a contemplar esta
luz...que quer chegar a cada canto desta cidade, aos nossos concidadãos, em
cada espaço da nossa vida”.
O Papa reconhece a complexidade da vida nas
cidades, marcadas por “um contexto multicultural, com grandes desafios não
fáceis de resolver”. “As grandes cidades – continuou - tornam-se pólos que
parecem apresentar a pluralidade das formas que nós, seres humanos, encontramos
para responder ao sentido da vida nas circunstâncias em que nos achávamos”. Por
outro lado – fez a ressalva - “as grandes cidades também escondem o rosto de
muitos que parecem não ter cidadania ou ser cidadãos de segunda categoria”:
“Nas grandes cidades, sob o ruído do tráfego, sob o
«ritmo das mudanças», permanecem silenciadas as vozes de tantos rostos que não
têm «direito» à cidadania, não têm direito a fazer parte da cidade – os
estrangeiros, os seus filhos (e não só) que não conseguem a escolaridade, as
pessoas privadas de assistência médica, os sem-abrigo, os idosos sozinhos –
postos à margem das nossas estradas, nos nossos passeios num anonimato
ensurdecedor. Entram a fazer parte duma paisagem urbana que lentamente se torna
natural aos nossos olhos e, especialmente, no nosso coração”.
Neste contexto, a certeza da presença de Jesus que
continua a envolver-se e envolvendo as pessoas numa única história de salvação,
nos enche de esperança, disse Francisco:
“Uma esperança que nos liberta daquela força que
nos impele a isolar-nos, a ignorar a vida dos outros, a vida da nossa cidade.
Uma esperança que nos liberta de «ligações» vazias, das análises abstratas ou
da necessidade de sensações fortes. Uma esperança que não tem medo de
inserir-se, agindo como fermento, nos lugares onde nos toca viver e atuar. Uma
esperança que nos chama a entrever, no meio do «smog», a presença de Deus que
continua a caminhar na nossa cidade”.
Para “aprendermos a ver” a “luz que passa pelas
nossas estradas”, “Deus que vive conosco no meio do «smog» das nossas cidades”
e “encontrar-nos com Jesus vivo e operante no hoje das nossas cidades
multiculturais”, o Pontífice propõe o Profeta Isaías como guia, pois ele
apresenta-nos Jesus como «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno,
Príncipe da Paz». Assim, nos introduz na vida do Filho, para que seja a nossa
vida também”.
«Conselheiro admirável»: O Papa explica que “o
primeiro movimento que Jesus gera com a sua resposta é propor, incitar,
motivar. Sempre propõe aos seus discípulos que partam, que saiam. Impele-os a
ir ao encontro dos outros, onde realmente estão e não onde gostaríamos que
estivessem. Ide uma, duas, três vezes, ide sem medo, sem repugnância, ide e
anunciai esta alegria que é para todo o povo”.
Como «Deus forte», Jesus é aquele que “se misturou
com as nossas coisas, nas nossas casas, com as nossas «panelas», como gostava
de dizer Santa Teresa de Jesus”. Como “Pai eterno”, “nada e ninguém poderá
separar-nos do seu Amor. Pai que, no seu abraço, é boa notícia para os pobres,
alívio para os aflitos, liberdade para os oprimidos, consolação para os
tristes”.
Por fim, como «Príncipe da paz», Jesus nos impele a
“ir ter com os outros para partilhar a boa notícia de que Deus é nosso Pai”:
“Ele caminha ao nosso lado, liberta-nos do
anonimato, duma vida sem rostos, vazia, e introduz-nos na escola do encontro.
Liberta-nos da guerra da competição, da auto-referencialidade, para nos
abrirmos ao caminho da paz. Aquela paz que nasce do reconhecimento do outro,
aquela paz que surge no coração ao ver, de modo especial o mais necessitado,
como um irmão”.
Ao final da celebração, o Cardeal Arcebispo de Nova
Iorque Dolan fez um caloroso agradecimento ao Santo Padre por estar cumprindo
“o mais importante e poderoso ato que nós podemos fazer: o Sacrifício da Santa
Missa”.
Fonte e imagem: News.va
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