O Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, assinou o acordo de paz para pôr fim a 20 meses de guerra civil, mas com "sérias reservas". A cerimónia da assinatura teve lugar em Juba na presença dos governadores regionais. O Conselho de Segurança das Nações Unidas havia ameaçado acções imediatas se Salva Kiir não tivesse assinado. O acordo já tinha sido assinado pelo líder dos rebeldes, o ex-vice-presidente Riek Machar. "O acordo não é a Bíblia ou o Corão - disse Kiir no momento da assinatura - porque não o deveríamos modificar. Dai-nos um pouco de tempo e tentaremos corrigi-lo". Na guerra civil morreram dezenas de milhares de pessoas. Mas quais são os motivos de preocupação para uma pacificação que continua a ser muito difícil? Fausta Speranza perguntou a Aldo Pigoli, professor de História da África contemporânea na Universidade Católica:
O conflito que está em curso desde dezembro de 2013 no Sudão do Sul parece ter chegado a uma fase importante. O acordo de paz é certamente um momento importante. Deveria pôr fim a um longo período de conflitualidade, mesmo muito alta, entre as duas partes, ou seja, o governo e a facção rebelde que, porém, é liderada por aquele que era vice-presidente do país, Riek Machar, quando o País se tornou independente no verão de 2011. O acordo é um momento importante e fundamental também porque faz ver os resultados da diplomacia regional e internacional para acabar com o conflito. O ponto de interrogação é quanto tempo vai durar este acordo, porque é preciso ter em conta que a contenda, as razões do conflito não estão terminadas. A assinatura do acordo deixa contudo um ponto de interrogação muito forte, sobre qual será o futuro do País.
Vamos recordar estes motivos da contenda?
Na base está o contraste entre as duas principais figuras do SPLM, o partido no poder, isto é, o Presidente Salva Kiir e o ex-vice-presidente Machar, e os seus apoiantes. É bom ressaltar que não se trata de um conflito meramente étnico entre os dois principais grupos étnicos do País - os Dinka e os Nuer - mas de uma disputa político-institucional que depois tem a ver basicamente com a capacidade do governo e de quem detém as instituições para gerir as "receitas" de petróleo que são o activo mais importante do País. É preciso lembrar que o Sudão do Sul é um país extremamente pobre, sem infra-estruturas económicas e que se baseia fundamentalmente na gestão das receitas provenientes, precisamente, da venda de petróleo.
A nível social, como se reflecte este conflito entre as partes políticas?
É um dos pontos de interrogação, isto é, uma vez que se chegue ao acordo de paz e a uma estabilização, mesmo de breve duração, do País, será necessário depois responder às perguntas fundamentais: este País tem milhões de habitantes que vivem abaixo da linha de pobreza, faltam os serviços básicos fundamentais e, por isso, se não se responderá a estas necessidades básicas da população, o risco é que vão surgir novos conflitos. Até porque várias partes que até hoje participaram no conflito não estão de acordo com a assinatura dos acordos de paz e é provável que nos próximos meses possam surgir novos conflitos.
Fonte e imagem: Rádio vaticano
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