A
igreja deve ser um espaço onde se possa vislumbrar o céu. Quando vamos à
igreja, devemos voltar de lá com certeza de que vimos de alguma maneira, mesmo
que por uma pequena fresta, um pedacinho do céu. Se assim não for, ela perde a
razão de ser. Porém, para que ela mostre o céu, é preciso que as pessoas que
ali frequentam, ou fazem parte dela, reflitam Deus nas suas ações e no seu
proceder. Se a sua igreja não está possibilitando isso, reveja se você não está
no lugar errado, ou se você não está procedendo de modo errado.
A
igreja não é apenas um templo de pedra, um espaço físico, uma estrutura. Ela é
também uma condição, um jeito de ser, um modo de tornar visível o invisível.
Ela é feita de seres humanos, mas com propósitos divinos. A Igreja não são
apenas os líderes religiosos, mas uma comunidade de pessoas que se propõem
construir relações fraternas, pautadas nos ensinamentos divinos. Só se descobre
o que é ser Igreja quando se participa dela, quando há comprometimento com ela.
Desse modo, quando for falar mal da Igreja, tome cuidado, você é a Igreja.
A
Igreja é a concretização da religião. Quem diz que tem religião, mas não
participa de uma Igreja, de uma comunidade eclesial, tem uma religião
desconectada da realidade. Na igreja possibilitamos que o divino se manifeste
no humano, com todas as suas limitações, enquanto que numa religião sem igreja
o divino não nos desafia a vencer nossas limitações, porque só vencemos nossas
limitações quando confrontamos com ela diante dos nossos semelhantes, daqueles
que nos ajuda a enxergar quão pequenos nós somos diante do mistério insondável
de Deus, como diz o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos (Rm 11,33): “Ó
profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são
inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos!”. Somente tem
acesso aos reflexos desse mistério insondável aquele que se compromete em
conhecê-lo. Essa foi a razão de Jesus levar os seus discípulos para a região de
Cesareia de Filipe (Mt 16, 13-20), periferia de Jerusalém, e ali perguntar quem
Ele era para eles. A resposta acertada de Pedro não significou que alguém o
tenha dito, mas que ele estava de fato comprometido com Jesus e com sua causa,
e por isso Deus revelou o seu mistério insondável a ele. Razão pela qual Jesus
ordenou que não dissessem a ninguém que Ele era o Messias. Só o enxergará como
o Messias, o Salvador, o Filho do Deus vivo, aqueles que se comprometerem com
Ele na construção da sua Igreja. Senão, continuar-se-á o vendo como alguém
importante, mas não como Deus conosco. Nisso consiste a diferença entre uma
Igreja viva e comprometida com a vida e uma religião desconectada da realidade,
onde Deus está para servir aos caprichos humanos.
Por
essa razão foi confiada a Simão Pedro às chaves do Reino dos Céus, dando-lhe a
liberdade, ou o livre arbítrio, para que ele ligasse ou desligasse as coisas
entre o céu e a terra. Antes, porém, Jesus o confirmou como “pedra”, alicerce
que edificaria essa Igreja missionária e profética que iria enfrentar de modo
incansável o “poder do inferno”, e que sairia constantemente vencedora dessa
batalha interminável. Batalha essa que concretiza em cada cristão que assume
verdadeiramente as propostas de Cristo, construindo sobre a rocha do amor uma
Igreja inabalável, apesar de tantas perseguições, calúnias e tentativas de
desmoralização daquela que representa a marca do Cristo e dos apóstolos entre
nós.
Assim
também acontece conosco: quando participamos da Igreja, nos comprometendo na
construção do Reino de Deus, nós fazemos acontecer ainda aqui, na terra, o
Reino dos céus. Quando assim procedemos, estamos ligando o céu e a terra. Caso
contrário, estaremos distanciando o Reino dos Céus deste mundo, desligando as
“teias” que possibilitam que o reino aconteça, ou impedindo que seja ele
vislumbrado de alguma maneira. Veja se o seu procedimento não está provocando
desligamentos em vez de ligações que possibilitam conectar com Deus.
Quer
promover o céu? Quer conectá-lo com a terra? Faça o bem; ame os seus
semelhantes; fuja das coisas que desagradam a Deus; evite falar mal do seu
próximo; não prejudique ninguém, mesmo que você tenha sido prejudicado; não
vingue, mas perdoe; denuncie injustiças; seja solidário, e ajude o seu próximo;
enfim, ajude a sua Igreja a ser melhor, mostrando que você traz dentro de si
uma parcela divina.
Padre José
Carlos Pereira CP (é sociólogo
e escritor)
Fonte:
Jornal Santuário de Aparecida
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