A cidadania é um imperativo que deve continuar a
mover os discípulos e discípulas de hoje.
Discípulos e discípulas devem buscar a
transformação social na promoção do bem comum.
A Primeira Carta de Pedro traz um aceno importante
sobre a vida cristã: a perspectiva de que a cidadania dos cristãos e cristãs se
dá, de fato, na pátria celeste, da qual somos herdeiros por participarmos da
vida filial de Jesus, o Herdeiro. Como forasteiros no mundo, os cristãos e
cristãs são chamados a dar testemunho de sua verdadeira cidadania, agindo de
modo diferente daqueles que são próprios deste mundo. O imperativo ético,
então, faz-se notar:
Caríssimos,
eu vos exorto como a migrantes e forasteiros: afastai-vos das paixões carnais,
que fazem guerra a vós mesmos. Tende bom procedimento no meio dos pagãos. Deste
modo, mesmo que vos caluniem como se fôsseis malfeitores, poderão observar a
vossa boa atuação e glorificarão a Deus no dia do julgamento. Subordinai-vos a
toda autoridade humana por amor ao Senhor, quer ao rei, como soberano, quer aos
governadores, que por ordem dele castigam os malfeitores e premiam os que fazem
o bem. Pois a vontade de Deus é precisamente esta: que, fazendo o bem, caleis a
ignorância dos insensatos. Conduzi-vos como pessoas livres, mas sem usar a
liberdade como pretexto para o mal. Pelo contrário, sede servos de Deus. Honrai
a todos: aos irmãos, amai; a Deus, tende temor; ao rei, honrai. (1Pd 2,11-17).
Esse modo de agir cristão configurou o proceder dos
depois-de-Jesus, junto às sociedades nas quais estavam inseridos. Na
consciência de que o Reino de Deus estava para além da história, não
descuidavam de que é na história que esse Reino se desponta, tal como
aprenderam e experimentaram em Jesus. Ainda que a esperança os levassem para
fora do limiar da historicidade, era na história que exerciam seu ministério de
anunciadores do Reino de Deus, sendo verdadeiras testemunhas da fé que professavam,
como cidadãos e cidadãs primorosos.
A historiografia confirma essa realidade. De grande
valor literário e histórico, há uma carta escrita por Plínio, o Jovem,
governador da Bitínia, sob o Império de Trajano, no século II da era cristã. Na
epístola, o governador consulta o imperador a respeito das ordens de
perseguição aos cristãos. Relatando seus procedimentos, o jovem governador
manifesta ao Imperador o bom agir dos cristãos, frente às leis do Império, com
exceção à negação à fé no Cristo, com o culto ao imperador: “Foram unânimes em
reconhecer que sua culpa se reduzia apenas a isso: em determinados dias,
costumavam comer antes da alvorada e rezar responsivamente hinos a Cristo, como
a um deus; obrigavam-se por juramento não a algum crime, mas à abstenção de
roubos, rapinas, adultérios, perjúrios e sonegação de depósitos reclamados
pelos donos. Concluído este rito, costumavam distribuir e comer seu alimento.
Este, aliás, era um alimento comum e inofensivo”.
A responsabilidade cidadã faz parte do agir
cristão, desde a aurora desse movimento dos seguidores e seguidoras de Jesus
Cristo, o Ressuscitado. A cidadania é um imperativo que deve continuar a mover
os discípulos e discípulas de hoje: transformando a sociedade, na promoção da
justiça e do bem comum. É o que nos ajuda a refletir, o artigo Cristianismo e Cidadania, do cientista social e
coordenador de políticas sociais, junto à Arquidiocese de Belo Horizonte,
Frederico Santana Rick.
Para que nos compreendamos, na relação com a
sociedade na qual estamos inseridos, é preciso sempre voltar às inspirações
evangélicas, buscando perceber os sinais de nosso tempo, criticamente. A partir
da ação de Jesus no mundo, como revelação de Deus e manifestação de uma
humanidade verdadeiramente humanizada, nasce o compromisso cristão de uma
cultura cidadã, nascida de uma ética que tem como fonte o Evangelho.
Aprofundando essa reflexão, o doutor em Teologia, pela FAJE, Carlos Cunha,
apresenta-nos o artigo Ética cristã e cultura cidadã.
Como aspecto importante de nossa participação numa
sociedade que busca a justiça social e alternativas que rompam com o sistema
que oprime, exclui e mata, está a questão de pensarmos a economia, a partir da
dimensão da solidariedade. Com o artigo Economia solidária: por quê?, a mestra em Teologia pela
FAJE, a Ir. Ana Maria de Castro, propõe-nos um olhar para a economia a partir
de um lugar gerador de vida, cidadania e dignidade da pessoa.
Felipe Magalhães Francisco
Fonte e imagem: Dom Total
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