Não goste, ame! Pois somente o AMOR é capaz de construir o mundo. (Antonio Luiz Macêdo)..

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O Fato da Foto: Palavras de Maria



Uma das principais características da personalidade da Mãe é o silêncio. Plasmada no coração do Pai pelo Espírito Santo, o silêncio absoluto herdou do esposo este dom inefável. Prefere “guardar todas as coisas para meditar no seu coração”. (Lc 2,19).

 Quando em alguns momentos fez-se necessário que a sua voz fosse ouvida, falou; suas palavras, porém, eram mansas, delicadas e cheias de ternura. Os Evangelhos, segundo Lucas e João, guardam as suas sete expressões vocais pronunciadas dentro de circunstâncias diversas.

 1. Como se fará isso, já que eu não convivo com um homem? (Lc 1,34)
   
Esta fala de Maria está situada no contexto da Anunciação. Gabriel comunica que ela conceberá e dará à luz um filho. Ela não entende. Para que um filho fosse gerado era indispensável a existência de um relacionamento conjugal. E não só isso: o casamento era um ato legal, público e religioso para o povo judeu. Ela não era casada, estava apenas prometida em casamento. Não pode, por enquanto, manter um relacionamento íntimo com José. Se aparecer grávida antes do casamento, ela sabe muito bem o que a espera e o que espera qualquer jovem que age assim. “Será levada até a frente da casa do seu pai e os homens da cidade a apedrejarão até a morte, por haver cometido uma infâmia em Israel, prostituindo-se na casa paterna” (Dt 22,21). De que maneira ela conceberia? Como? Contrariando toda a ciência? Indo de encontro aos preceitos instituídos pelo próprio Criador? Ele mesmo dissera, estava escrito no Gênesis: “...serão uma só carne”. (Gn 2,24); e um pouco antes: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!” (Gn 1,28). O anjo tranqüiliza o seu coração: “O Espírito Santo virá sobre ti”. (Lc 1,35). Ela acolheu esta palavra e esperou.

 2. Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. (Lc 1,38)  
   
Ainda no contexto da Anunciação, o anjo explicíta a Maria três sinais que caracterizariam aquele a quem ela iria gerar: “Ele será grande, será o Filho do Altíssimo e será Rei”. Na sua pequenez, na sua humildade, na sua servidão, ela abrigaria o Grande, o Altíssimo, o Rei. E José? E os seus planos? E o seu casamento? Faltava tão pouco!... A casinha estava ficando linda! Um pequeno canteiro de flores denunciava o quanto ele era romântico e sensível! Estava tudo pintado, limpinho, mobiliado... Fazia gosto de ver! A carpintaria ficava próxima. De vez em quando poderia ir até lá levando alguns figos ou alguns pãezinhos assados na hora para recompor as energias do seu amado. À tardinha, junto do portão, revestida de simplicidade e singeleza, esperaria ansiosa a sua volta e o abraçaria, e o beijaria, e o conduziria pela mão até o seu pedacinho do céu. E agora? O chamado, o apelo de Deus são maiores, infinitamente superiores aos seus sonhos. Seus sonhos são nada diante da Missão Maior. Ela é nada. Deus é o Tudo. Diante dele ela só pode curvar-se. É a escrava do Senhor.
   
No Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís Maria Grignion de Montfort assinala cinco diferenças fundamentais entre um servo e um escravo:
a)  Um servo não dá a seu patrão tudo o que é, tudo o que possui ou pode adquirir por outrem ou por si mesmo; mas um escravo se dá integralmente a seu Senhor, com tudo o que possui ou possa adquirir, sem nenhuma exceção.
b) Servo exige salário pelo serviço que presta a seu patrão; o escravo, porém, nada pode exigir, seja qual for a assiduidade, a habilidade, a força que empregue no trabalho.
c)  Servo pode deixar o patrão quando quiser, ou ao menos quando exp tempo de serviço, mas o escravo não tem esse direito.
d) O patrão não tem sobre o servo direito algum de vida e morte, , de modo que, se o matasse como mata um dos seus animais de carga, cometeria um homicídio; mas, pelas leis, o senhor tem sobre o escravo o poder de vida e morte; de modo que pode vendê-lo a quem o quiser, ou matá-lo como o faria a seu cavalo
e)  O servo, enfim, só por algum tempo fica a serviço de um patrão, enquanto o escravo o é para sempre.
f) A vontade da escrava é a vontade do seu senhor. Maria, sendo escrava, faz somente a vontade de Deus, o seu Senhor.


3. Shalom!!!  (Lc 1,40) 
   
Nós, latino-americanos, costumamos nos saudar de três maneiras: Bom dia, boa tarde ou boa noite. Os árabes, os russos – por exemplo – saúdam-se com um beijo de cada lado da face (inclusive os homens). A saudação para o povo judeu, no entanto, tem uma conotação religiosa muito explícita. Naquele momento do encontro entre a mãe do Salvador e a mãe do Precursor, esta conotação eleva-se ao auge. Shalom! Shaaaaalooommmm!!! Isabel, eu te desejo de todo o meu coração, saúde, felicidade e, acima de tudo, paz. Não a paz que o mundo oferece e sim, a paz que o mundo não conhece, a paz que somente Ele pode dar. A paz da qual eu sou a portadora Aquela paz que Isaías fala: “O lobo, então, será hóspede do cordeiro; o leopardo vai se deitar ao lado do cabrito; o bezerro e o leãozinho pastarão juntos; uma criança pequena tocará os dois; a ursa e a vaca estarão pastando e suas crias estarão deitadas, lado a lado,; o leão, assim como o boi, comerá capim. O bebê vai brincar no buraco da cobra venenosa e a criancinha enfiará a mão no esconderijo da serpente. Ninguém fará mal, ninguém pensará em prejudicar na minha santa montanha. Pois a terra estará repleta do conhecimento do Senhor, assim como as águas cobrem o mar” (Is 11,6-9). É esta paz que eu te desejo. Paz que é fruto do Espírito Santo e desemboca na cachoeira da alegria interior. Banha-te desta paz! Mergulha nas águas profundas desta alegria para que te possas revestir das cascatas do júbilo e da esperança!
 
4. A minha alma engrandece o Senhor... (Lc 1,47-55)
  
 É a primeira frase do Magnificat. Por si só já traduz um hino de louvor à magnificência de Deus. Ele é Grande, é o Altíssimo, é o Rei. A minha alma não pode silenciar. Engrandecê-lo, louvá-lo, exaltá-lo, bendizê-lo é a minha missão., foi para isso que eu nasci. E porque o glorifico o meu espírito exulta, não cabe em si de alegria, está encharcado de júbilo em Deus, meu Salvador. A sua misericórdia me escolheu e me preparou desde toda a eternidade, e me predestinou para que fosse salva pelos méritos do meu Filho Jesus. Fui salva antecipadamente não por merecimento, mas por amor, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Humildade que é dom, que é graça concedida pela sua benevolência àqueles a quem ele quer dar, e tem como pré-requisito a qualidade de escravo. Desde agora todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, bendita, feliz, não porque eu seja por mim mesma; não porque eu queira me engrandecer e me exaltar, mas porque fez em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é santo. Ele libertou o seu povo peças mãos de Moisés e o conduziu através do deserto à Terra Prometida, para nos mostrar que a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Onde estão os poderosos da Babilônia, da Assíria, da Pérsia, do Egito, de Roma? Onde se encontram os tronos de Nabucodonosor, do Faraó e de Herodes? Ele mostrou a força do seu braço, dispersou os que têm planos orgulhosos no coração. O mistério das suas escolhas é insondável! Preferiu Jacó a Esaú; escolheu Davi em vez de Eliab; elegeu-me... Derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e mandou embora os ricos, de mãos vazias. Acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre. Isabel, nós somos desta descendência. Ele nos cumula de bens. Ele nos acolhe e derrama a sua misericórdia sobre nós. Somos da descendência de Abraão, somos os descendentes da Promessa: “Farei de ti uma grande nação e te abençoarei. Engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra” (Gn 12,2-3). Isabel! Isabel! A minha alma glorifica o Senhor!

5. Filho, por que agiste assim conosco? (Lc 2,48)
   
Os preparativos prolongaram-se alguns dias para que nada fosse esquecido. Maria tivera muitas coisas para arrumar. Era a primeira vez que a família iria a Jerusalém cumprir o preceito da Lei. Jesus não cabia em si de contentamento! No dia seguinte, cedinho, juntavam-se às caravanas, José, Maria e Jesus. Homens de um lado, mulheres do outro, em longas filas, partiam cantando o Salmo 122: “Fiquei alegre quando me disseram, vamos à casa do Senhor!” Após alguns dias de percurso, vencidos aproximadamente 150km, já à entrada da cidade, as vozes se fortaleciam, o cansaço dava lugar a euforia e a caravana exultante completava: “E agora se detêm nossos pés às tuas portas, Jerusalém. Jerusalém é construída como cidade sólida e compacta. É para lá que sobem as
tribos, as tribos do Senhor, segundo a lei de Israel, para louvar o nome do Senhor. Pois lá estão os tribunais de justiça, os tribunais da casa de Davi. Desejai a paz para Jerusalém: vivam em paz os que te amam! Haja paz nos teus muros, segurança nos teus palácios. Por amor a meus irmãos e a meus amigos eu direi: -Paz para ti. Por amor à casa do Senhor, nosso Deus, te desejo a felicidade”.
   
Sete dias foram o bastante. O encanto e a admiração de Jesus era notória a todos. O tempo passara rápido demais. O dia do regresso amanheceu cinzento. Depois da caminhada de quase um dia, a aflição: Jesus não se encontra na caravana. Tristeza, angústia, ansiedade, culpa, descuido, desatenção, eram alguns dos sentimentos que tomavam conta de Maria e de José, durante o retorno a Jerusalém, à procura incessante do menino. “Depois de três dias, o encontraram no Templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas” (Lc 2,46). O Messias foi enviado não para destruir a Torá, mas para levá-la à perfeição. “Eu digo a vocês que não precisa matar, basta tratar mal o irmão para que sejam julgados. É suficiente olhar para uma mulher com desejo de possuí-la no coração para cometerem adultério. O casamento é indissolúvel porque é uma aliança entre um homem, uma mulher e Deus; por isso o divórcio é pecado. Que vocês falem sempre a verdade e nunca jurem, nem pelo céu, nem pela terra, nem pelo nome de Deus. Em nenhuma circunstância a vingança será permitida; cabe apenas ao Pai realizar a justiça. Que o amor entre vocês não seja restrito, mas seja abrangente e acolha a todos, inclusive os inimigos”. “Todos aqueles que ouviam o menino ficavam maravilhados com a sua inteligência e suas respostas. Seus pais quando o viram, ficaram comovidos e sua mãe lhe disse: ‘Filho, por que agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos à tua procura!’” Filho, olha para nós. Vê quanta angústia nos nossos olhos e nos nossos gestos! Nós te amamos tanto! Somos capazes de dar a vida por ti. Tu és o maior dos nossos sonhos, a razão do nosso amor e de nossa vida. Por que agiste assim? A resposta foi seca e lacônica: “Não sabíeis que devo cuidar das coisas do meu Pai?” (Lc 2,49) José e Maria silenciaram, “pois não compreenderam a palavra que ele lhes falou” (Lc 2,50). Voltaram para Nazaré. Estas palavras continuaram incompreensíveis por muito tempo. Mas “sua mãe guardava todas essas coisas no coração” (Lc 2,51).   
  
6. Eles não têm vinho!  (Jo 2,3)
   
Era a festa de celebração de um casamento na cidade de Cana, na Galiléia. João não cita o nome dos noivos. Maria, Jesus e os seus discípulos haviam sido convidados e estavam lá. Festa bonita e organizada. Os mínimos detalhes foram pensados. Um casamento, à primeira vista, de gente de posse, pois havia o mestre de cerimônia e os garçons para servir aos convivas. Sete dias de duração! O que saltava aos olhos era o número de convidados que dava a impressão a quem olhasse de fora, estava muito além do que fôra previsto. Talvez “penetras” ou parentes mais distantes que se sentiram convidados ou mesmo, convidaram-se; talvez conhecidos que se acharam no direito de participar dos comes e bebes... O certo é que a oferta foi menor do que a demanda e, no quarto dia, o vinho acabou. E acabou justamente porque Maria e Jesus estavam lá. Maria, para levar a preocupação desse vexame a Jesus; Jesus, para acolher o vexame e realizar o milagre. A Mãe aproxima-se dele e diz: “Eles não têm vinho!” (Jo 2,3). Filho, vê a aflição dos noivos! A vergonha está estampada nos seus olhos. Que decepção! Prepararam tudo com tanto esmero e logo agora, no melhor da festa, faltar o vinho. O que eles vão dizer? Como vão explicar-se diante dos convidados? Filho!...” “Mulher, isto compete a nós? A minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4). Maria não curvou a cabeça. Ela sabia em quem depositava sua confiança! Naquele momento, a lembrança das palavras do anjo pronunciadas há mais de trinta anos, fortaleceram-na: “Ele será Grande, será chamado Filho do Altíssimo, o seu Reino não terá fim” (Lc 1,32-33). É ele! O filho que gerei nas minhas entranhas, o filho que se alimentou do meu leite, ele é o Filho do Altíssimo. Eu não posso porque sou apenas escrava, mas ele é Rei, ele pode e vai realizar o milagre.

7. Fazei tudo o que ele disser!  (Jo 2,5)
   
É a ordem resoluta da Mãe para os serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Eis a mais simples e mais eficiente receita que nos foi deixada por Maria! Ela se reconhece unicamente como a escrava humilde do Senhor. Após estas palavras, imediatamente ela sai de cena. Esconde-se. Encanta-se. Então as talhas são cheias de água e o prodígio acontece. O vinho mais puro finalmente jorrou das seis talhas de pedra. E a alegria se fez presente outra vez naquela festa de casamento, pela intercessão daquela que é A CHEIA DE GRAÇA.

Antonio Luiz Macêdo
Imagem google

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