Uma das principais características da personalidade
da Mãe é o silêncio. Plasmada no coração do Pai pelo Espírito Santo, o silêncio
absoluto herdou do esposo este dom inefável. Prefere “guardar todas as coisas para meditar no seu coração”. (Lc 2,19).
Quando em alguns momentos fez-se necessário que a
sua voz fosse ouvida, falou; suas palavras, porém, eram mansas, delicadas e
cheias de ternura. Os Evangelhos, segundo Lucas e João, guardam as suas sete
expressões vocais pronunciadas dentro de circunstâncias diversas.
2. Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim
segundo a tua palavra. (Lc 1,38)
Ainda no contexto da Anunciação, o anjo explicíta a
Maria três sinais que caracterizariam aquele a quem ela iria gerar: “Ele será grande, será o Filho do Altíssimo
e será Rei”. Na sua pequenez, na sua humildade, na sua servidão, ela
abrigaria o Grande, o Altíssimo, o Rei. E José? E os seus planos? E o seu
casamento? Faltava tão pouco!... A casinha estava ficando linda! Um pequeno
canteiro de flores denunciava o quanto ele era romântico e sensível! Estava
tudo pintado, limpinho, mobiliado... Fazia gosto de ver! A carpintaria ficava
próxima. De vez em quando poderia ir até lá levando alguns figos ou alguns
pãezinhos assados na hora para recompor as energias do seu amado. À tardinha,
junto do portão, revestida de simplicidade e singeleza, esperaria ansiosa a sua
volta e o abraçaria, e o beijaria, e o conduziria pela mão até o seu pedacinho
do céu. E agora? O chamado, o apelo de Deus são maiores, infinitamente
superiores aos seus sonhos. Seus sonhos são nada diante da Missão Maior. Ela é
nada. Deus é o Tudo. Diante dele ela só pode curvar-se. É a escrava do Senhor.
No Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem,
São Luís Maria Grignion de Montfort assinala cinco diferenças fundamentais
entre um servo e um escravo:
a) Um servo não dá a seu patrão
tudo o que é, tudo o que possui ou pode adquirir por outrem ou por si mesmo;
mas um escravo se dá integralmente a seu Senhor, com tudo o que possui ou possa
adquirir, sem nenhuma exceção.
b) Servo exige salário pelo
serviço que presta a seu patrão; o escravo, porém, nada pode exigir, seja qual
for a assiduidade, a habilidade, a força que empregue no trabalho.
c) Servo pode deixar o patrão
quando quiser, ou ao menos quando tiver tempo de serviço; mas o escravo não tem
esse direito.
d) O patrão não tem sobre o
servo direito algum de vida e morte, de modo que, se o matasse como mata um dos
seus animais de carga, cometeria um homicídio; mas, pelas leis, o senhor tem
sobre o escravo o poder de vida e morte; de modo que pode vendê-lo a quem o
quiser, ou matá-lo como o faria a seu cavalo.
e) O servo, enfim, só por algum
tempo fica a serviço de um patrão, enquanto o escravo o é para sempre.
A vontade da
escrava é a vontade do seu senhor. Maria, sendo escrava, faz somente a vontade
de Deus, o seu Senhor.
Antonio Luiz Macêdo
Imagem Google
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