Não goste, ame! Pois somente o AMOR é capaz de construir o mundo. (Antonio Luiz Macêdo)..

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Belém, onde o Amor nasceu!



Naquele tempo a profecia de Miquéias reacendia-se em todo o território da Palestina. É como se aquela lembrança determinasse a proximidade de um acontecimento extraordinário: “Mas tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel”. (Mq 5,1).
   
Deus se serve até dos tiranos para realizar os seus projetos. Sem o saber, Augusto, o imperador romano, estava contribuindo sobremaneira para que o plano de Deus viesse a se concretizar.
   
“Naqueles dias saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra” (Lc 2,11). A razão era simples: saber o número de habitantes para poder controlar melhor a arrecadação de impostos. A evasão de rendas e a sonegação constituíam “no calcanhar de Aquiles” do orçamento imperial. Cada um estaria obrigado a registrar-se na sua cidade natal. “Também José que era da família e da descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida” (Lc 2,4-5).
   
Para um casal que se ama, a distância por menor que seja, ou o tempo por mais curto que se apresente, toma ares de eternidade. E quando a esposa está grávida?!... Nunca passou pela cabeça de José deixar Maria em Nazaré e seguir sozinho até Belém. Não a deixaria jamais! E sabendo que o seu amor levava consigo no ventre o Amor Maior, sua intenção robustecia-se e a certeza se firmava solidamente.
- Maria! Maria! Levanta amada minha! Os primeiros raios da manhã se derramam sobre os campos; as romãzeiras são banhadas pelo orvalho da madrugada; as aves do céu ressoam cantos de alegria saudando a manhã que nasce; e as flores dos campos, em roupas de noite, exalam o perfume colhido das estrelas. Maria!... José continua com o Cântico dos Cânticos.
“Levanta-te, minha amada,
minha bela e vem!
O inverno passou,
as chuvas cessaram e já se foram.
aparecem as flores no campo,
chegou o tempo da poda,
a rolinha já faz ouvir seu canto
em nossa terra.
A figueira produz seus primeiros figos,
soltam perfumes as vinhas em flor.
Levanta-te, minha amada,
minha bela e vem!
Minha rolinha que moras nas fendas das rochas,
no esconderijo escarpado,
mostra-me o teu rosto,
e a tua voz ressoe aos meus ouvidos,
pois a tua voz é suave
e o teu rosto é lindo!” (Ct 2,10-14).

Pela porta entreaberta uma brisa suave toca o seu rosto. Maria acorda. A manhã já vai alta quando iniciam a viagem.
   
Quatro, cinco ou mais dias os separam de Belém. A gravidez dificulta muito a marcha. Ora a pé, ora sentada no burrico... As dores provocadas pelo desconforto não tardam a chegar. A oração e as palavras de carinho e incentivo de José, a reconfortam, trazendo novo alento. Estão próximos. Já se podem vislumbrar do alto as primeiras casas da cidade. As energias se renovam. Mais uns dois quilômetros...
   
As hospedarias de Belém estavam lotadas. Emigrante em Nazaré há muito e muito tempo, José perdera o contato com familiares (se é que ainda os tinha por lá). E agora? Maria queixava-se das contrações que se amiudavam. O que fazer? Homem de fé e esperança, José não se intimida. Ergue os olhos ao céu e recita o Salmo 121, na primeira pessoa do plural: “Levanto os olhos para os montes: de onde nos virá auxílio? Nosso auxílio vem do Senhor que fez o céu e a terra. Não deixará nossos pés vacilarem. Aquele que nos guarda não dorme. Não dorme nem cochila o vigia de Israel. O Senhor é o nosso guarda; o Senhor é como a sombra que nos cobre e está à nossa direita. De dia o sol não nos fará mal, nem a lua de noite. O Senhor nos preservará de todo mal, preservará nossa vida. O Senhor vai nos proteger desde agora e para sempre”. A voz de Maria irrompe: - Amém! Amém!
   
O Senhor vem em auxílio de José. Ele lembra que nos arredores de Belém existem grutas onde os animais são recolhidos durante o inverno. Pelo menos, longe do burburinho da cidade, embora sem nenhum conforto, Maria estaria em paz.  Mais alguns passos e a gruta surge à sua frente. “Quando estavam ali chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura” (Lc 2,6).
   
Jesus não se prevaleceu de sua condição divina. Sendo Deus humilhou-se, revestiu-se de nossa carne e de nossas limitações para armar sua tenda no meio de nós. O Rei tem como palácio uma estrebaria, tem como berço um cocho; tem como enxoval pedaços de pano. Humilhou-se para nos exaltar e empobreceu-se para nos enriquecer. Humanizando-se nos divinizou para lembrar que o nosso corpo é santo e é Templo vivo do Espírito Santo.
Seu nascimento não foi revelado a reis, príncipes e rainhas. Nasceu no silêncio de uma noite de um céu extremamente azul e salpicado de estrelas. Deixou-se revelar aos simples, aos pobres, aos marginalizados. “Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho” (Lc 2,8). Foi a eles que o Senhor determinou fosse dada a Boa Notícia. A notícia acalentada há milênios em todos os corações da terra de Israel. “Um anjo do Senhor lhes apareceu e a glória do Senhor os envolveu de luz: - Eu vos anuncio uma grande alegria que será também a alegria de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador que é o Cristo Senhor!” (Lc 2,10-11).
    
As insígnias dadas pelo anjo como sinal do Senhorio de Jesus e como marca de que ele é o Salvador, de nada adiantariam se não fossem anunciadas pelo mensageiro do céu. Eles esperavam um rei, filho de rei, neto de rei. E como poderia um rei ser envolto em faixas e deitado numa manjedoura? Tinham que conferir. Levantaram-se e foram a Belém. Enquanto seguiam, miríades do exército celeste entoavam hinos de louvor a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos que são do seu agrado!” (Lc 2,14).
Chegando apressadamente a Belém, encontraram o menino como o anjo havia dito, junto de Maria e de José. Contaram-lhes o que havia sido dito a respeito dele e voltaram para o campo, louvando e glorificando a Deus. “Maria, entretanto, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19).

Antonio Luiz Macêdo
Imagem Google

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