Não goste, ame! Pois somente o AMOR é capaz de construir o mundo. (Antonio Luiz Macêdo)..

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Ain karin, onde o Espírito se derramou!



Quando se está plenificado do Espírito Santo, ele provoca em nós um desejo de nos desinstalarmos, de sairmos de nós mesmos em direção aos irmãos. Com Maria não poderia ter sido diferente. Após aquela “lua-de-mel” espiritual indescritível, ela parte às pressas para Ain Karin, na Judéia. Sim, na Anunciação o anjo dissera: “Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível” (Lc 1,36-37). 
 O Espírito Santo tem pressa. Ele não pode esperar. A disponibilidade para servir é dom exclusivamente dele e necessita ser posto em prática o mais rápido possível.
   
Não sabemos quanto tempo durou o percurso; o que sabemos é que durante todo aquele trajeto, a esposa do Espírito Santo esteve submetida aos cuidados e desvelos do Pai, porque conduzia no seu ventre – âmbula divina e ostensório sagrado – o Filho de Deus feito gente.
  
 “Quando chegou à casa de Zacarias, entrou e saudou Isabel” (Lc 1,40). O que haveria de extraordinário naquela saudação? Tratava-se do cumprimento normal utilizado pelo povo judeu desde épocas imemoriais. Isabel não viu Maria; apenas ouviu a sua saudação: “Shalom! Shalom! “ E tudo mudou!
   
Zacarias e Elisabete (Isabel) eram casados há muitos anos. Sonhavam com um filho, mas Isabel era estéril. Faltava apenas o fruto desse amor para que ele fosse plenamente realizado. Agora com a idade avançada, o sonho e a esperança  desvaneciam-se como o sol que desaparece lentamente no ocaso.
   
Um dia em que exercia as funções sacerdotais, “apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar e lhe disse”:
- Não tenhas medo, Zacarias, porque o Senhor ouviu o teu pedido! Isabel, tua esposa, vai te dar um filho e tu lhe porás o nome de João5. Ficarás alegre e feliz e muitos se alegrarão com o seu nascimento. Ele será grande diante do Senhor. “Não beberá vinho nem bebida fermentada e, desde o ventre da mãe, ficará cheio do Espírito Santo.” (Lc 1,11.13-15).
Porque duvidou em seu coração, Zacarias ficou mudo. “Algum tempo depois, sua esposa Isabel ficou grávida e permaneceu escondida durante cinco meses” (Lc 1,24).
 Isabel refugiou-se, escondeu-se na casa da serra. Seria demais aparecer diante das amigas naquele estado. Com aquela idade, o que não iriam pensar? E os comentários que infalivelmente correriam de boca em boca? A vergonha, a depressão pelo isolamento, a apreensão, foram maiores do que o sonho de ser mãe. Isabel não era feliz!
   
É com estes sentimentos perpassados pela sua sensibilidade que ela ouve a saudação. “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo” (Lc 1,41).
É interessante notar que aqui se cumpre a profecia do versículo quinze: o menino fica cheio do Espírito Santo e regozija, pulando de alegria no ventre de sua mãe. Por sua vez, Isabel fica repleta do Espírito Santo. E aí, tudo muda; porque o Espírito Santo é aquele que “faz novas todas as coisas”. Isabel, antes tímida, fraca, recatada, depressiva, triste, medrosa, envergonhada de sua gravidez, agora “exclama com voz forte: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42). Que transformação! Que diferença radical o Espírito Santo pode realizar naqueles que são dóceis à sua presença! Isabel não sabia que Maria estava grávida e muito menos que o seu ventre gerava o Filho do Altíssimo.  E por que reconhece Maria como bendita, bem-aventurada, feliz entre todas as mulheres de todos os tempos e de todos os lugares? E mais: Por que ela sabe que o fruto que Maria traz em seu ventre é bendito, se aquela barriguinha ainda não dá mostras visíveis de gravidez? Ela não sabe de nada, mas o Espírito Santo a inspirou se derramando abundantemente sobre ela e acordando “a voz que um dia, clamaria no deserto”. 

A presença de Maria, grávida do Salvador pelo poder do Espírito, por si só é fonte de renovação, de restauração e de ressurreição. Isabel não era mais a mesma. A casa de Zacarias não era mais a mesma. O clima era outro, o relacionamento era outro. Respirava-se alegria, paz, esperança. A fé havia sido reavivada, o amor era mais amor. Enfim, a vida nascera outra vez. E numa efusão de contentamento que assomava todo o seu ser, Isabel exclama: “Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,43-45).
   
Maria se faz silêncio. Não entende o que está acontecendo, mas guarda essas coisas no coração. Se Lucas tivesse registrado pormenorizadamente este encontro entre os limiares do Antigo e do Novo Testamento, talvez houvesse incluído o pensamento da Mãe:
- Isabel, eu sou apenas a mãe, mas ele é tudo. A visita que transformou tua vida e tua casa foi ele quem realizou. Ele é o meu Senhor, o teu Senhor, o nosso Senhor. Nunca teremos merecimento para que ele venha até nós. Tudo é graça, é dom, é presente que ele nos quer ofertar: até a sua presença. A saudação que ouviste não foi minha, somente emprestei minha voz para que o Espírito Santo te saudasse por mim. Por isso não me viste, porquanto era ele quem falava pela minha voz. Quero agora te confessar uma coisa: na realidade eu sou feliz! Muito feliz! Meu coração transborda de alegria; todo o meu ser exulta de felicidade; meu corpo, minha alma e meu espírito rejubilam. Isabel, minha irmã, sinto a minha vida inundada de sustenidos e bemóis que compõem a mais bela de todas as sinfonias.
Maria então cantou: “A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta de alegria em deus meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me proclamarão bem0aventurada porque fez em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1,47-49).
   
As primeiras estrelas surgiam num céu extremamente azul. Timidamente a lua se levantava por trás da montanha. Os pássaros se recolhiam sorrateiramente. E naquela noite, quando o tempo se fez silêncio, poderia ser ouvida nitidamente a voz de todos os anjos repetindo em coro, com Maria: “A minha alma engrandece o Senhor... o Senhor é poderoso... o Senhor é Santo”. E Ain Karin dormiu em paz.

Antonio Luiz Macêdo
Imagem Google

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