Rev. Algustus Nicodemus, Ph.D. Teólogo Presbiteriano Brasileiro (1).
A CRISE NA
EUROPA
Por mais de
1.600 anos, quase toda a Europa foi dominada por governos que se diziam
cristãos. Será que a religião na Europa está prosperando neste século 21? Em 2002,
o sociólogo Steve Bruce, em seu livro God is Dead - Secularization in
the West (Deus Está morto no Ocidente), comentou o seguinte sobre a
Grã-Bretanha: “No século XIX, praticamente todos os casamentos realizados com
cerimônia religiosa.” No entanto, por volta de 1971, apenas 60% dos casamentos
ingleses eram assim. Em 2000, esse número caiu para meros 31%.
Mencionando essa tendência, o correspondente de
religião para o jornal londrino The Daily Telegraph escreveu: “Todas as
principais denominações, desde a Igreja Anglicana e a Igreja Católica, até a
Igreja Metodista e a Igreja Reformada Unida, estão passando por um longo
período de declínio”. Sobre um relatório ele disse: “É muito provável que até
2040 as igrejas da Grã-Bretanha estejam quase extintas, com apenas 2% da
população assistindo aos ofícios de domingo.” O mesmo tem sido dito a respeito
das igrejas da Holanda e de outros países na Europa. “Nas ultimas décadas
nosso país parece ter ficado definitivamente mais separado da religião”, observou
um relatório do Escritório Holandês de Planejamento Social e Cultural.
“Estima-se que por volta de 2020, 72% da população não estará filiada a
religião nenhuma.” Uma fonte noticiosa da Alemanha diz: “Um número cada vez
maior de alemães procura na feitiçaria e no ocultismo o ânimo que antes
encontravam na igreja, no trabalho e na família....Por todo o país, há igrejas
que acabam fechando por falta de adeptos.” A Nova Era e as seitas tem causado
um estrago danado em muitas denominações históricas protestantes como também na
Igreja Católica e Ortodoxa.
ESTADOS
UNIDOS
Nos Estados Unidos as pessoas levam a sério os assuntos da fé. De acordo com
algumas das principais agências de pesquisa de opinião, pelo menos 40% das
pessoas que entrevistaram afirmam que vão à igreja toda semana, embora os
números reais indiquem que, na verdade esse percentual esteja mais perto dos
20%. Mais de 60% diz acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus. No entanto,
seu entusiasmo por uma religião pode durar pouco. Muitos que freqüentam igrejas
nos Estados Unidos mudam facilmente de religião. Se um pregador perder a
popularidade ou o carisma, logo ele pode muito bem perder sua congregação, o
que muitas vezes significa também perder um lucro significativo. Algumas
igrejas estudam técnicas comerciais para aprender a “comercializar” da melhor
maneira os seus ofícios religiosos. Há congregações que pagam milhares de
dólares a firmas que prestam consultoria a igrejas. De acordo com uma
reportagem sobre essas firmas, um pastor satisfeito com o serviço disse: “Foi
um ótimo investimento”. Não admira que a “teologia da prosperidade”
seja uma prática constante em muitas igrejas e ministérios. Ela é hoje
considerada a mais terrível heresia no protestantismo. Os religiosos aprendem
que se contribuírem generosamente para a sua igreja ficarão ricos e saudáveis.
Quanto à moral, Deus muitas vezes é apresentado como tolerante. Tem-se
comentado que: “As igrejas americanas cuidam do bem-estar das pessoas em vez de
julgá-las.” Religiões populares costumam usar sugestões de auto-ajuda para
auxiliar a pessoa a ser bem-sucedida. Cada vez mais pessoas se sentem bem em
igrejas que não pertencem a uma denominação específica, cujas doutrinas,
consideradas motivo de divisão, quase nunca são mencionadas. No entanto,
fala-se de modo aberto e especifico sobre política, o que ultimamente tem dado
origem a alguns episódios embaraçosos para alguns pastores. Será que está
havendo um reavivamento religioso na América do Norte? Em 2005, a revista Newsweek
fez uma reportagem sobre a popularidade de “ofícios religiosos com gritos,
desmaios, pés batendo no chão” e outras práticas religiosas. Mas ela destacou:
“Seja o que for, não se trata de um grande aumento no numero de pessoas indo á
igreja.” Quando se pergunta ás pessoas qual é a sua religião, a resposta mais
comum é: “Nenhuma”. Se algumas congregações aumentam, isso acontece porque
outras estão diminuindo. A evidência mostra que as pessoas estão abandonando
aos milhares religiões convencionais, com suas cerimônias, enormes templos,
música de órgão, conjuntos musicais, teatros e clérigos vestidos a rigor. Há
muitas pesquisas e estudos que mostram que as igrejas estão sofrendo uma
fragmentação na América Latina, perdendo adeptos na Europa e mantendo o apoio nos
Estados Unidos por oferecer entretenimento, espetáculo e emoção. É claro que há
muitas exceções a essas tendências, mas o quadro é o de igrejas lutando para
manter o poder e o show.
EVANGELHO
DILUÍDO
René Padilha, teólogo equatoriano radicado na Argentina e porta-voz da missão
integral, chamam de problema fundamental das igrejas a ênfase exagerada no
crescimento numérico. “Em nome dele, o evangelho é diluído, os cultos são
transformados em entretenimento e o mandamento de Jesus sobre fazer discípulos
é substituído por uma estratégia de alistar o maior numero possível de
‘convertidos’ ás fileiras das instituições religiosas.” Em suas viagens,
Padilha tem visto “um numero enorme de megaigrejas com altas taxas de
crescimento numérico, mas com baixo grau de preocupação com a com a fidelidade
ao evangelho completo e ás dimensões éticas do discipulado na vida com um todo”
(2). Dá para perceber que o evangelho integral verdadeiro não faz parte dessas
igrejas.
CONCLUSÃO
Nosso mundo é dividido, subdividido e fragmentado, a ponto de podermos
considerá-lo estilhaçado. Nossas diferentes línguas, nacionalidades e religiões
têm recortado a raça humana e, até mesmo, o Corpo de Cristo, em centenas de milhares
de partes. A razão principal de tantas divisões e de tanta fragmentação é uma
só: o orgulho. Sim, como ocorreu com os construtores da Torre de Babel, nós, os
seres humanos, continuam querendo o maior destaque possível, para vermos nosso
nome elevado nas alturas (Gn 11,4). Continuamente nós buscamos ser melhores que
os outros, e procuramos mostrar superioridade, prestigio e poder; ou seja, só
desenvolvemos atitudes que causam divisão. Em meio a isso, as pessoas, se
vangloriam de serem justas, mas, no fundo, menosprezam os outros (Lc 18,9).
Para Santo Tomás de Aquino o orgulho é a raiz de todo o pecado. Esse pecado
passa para a família doméstica, religiosa e social. E o dano é
catastrófico. Entretanto, o orgulho do mundo sofreu um tremendo revés com
a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos trouxe uma mensagem totalmente
inovadora: a mensagem do amor. Ele, ao morrer por nós, no Calvário, elevou Seu
nome acima de todos os nomes, e mostrou que não há maior reconhecimento no céu,
para uma pessoa, que ama própria cruz. Através do precioso sangue escorrido de
Seu corpo crucificado, Jesus mostrou que a vida dos seres humanos deve ser
voltada para a partilha. E partilha envolve amor e humildade. Muito amor e
muita humildade! Muita comunhão! Jesus veio para reconciliar “todas
as criaturas” (Cl 1,20) e destruir a inimizade que separa as pessoas (Ef
2,14). E isso Ele fez, dando Sua própria vida. Ou seja, demonstrando que, ao
nos negarmos a nós mesmos e assumir-mos nossa cruz (Mc 8,34), nós passamos a
ter os mesmos pensamentos, nos tornando uma só alma, e permanecemos unidos (Fl
2,2). Em Jesus, nada fazemos por causa própria ou por vanglória, mas fazemos
tudo com humildade, considerando os outros superiores a nós (Fl 2,3). Por isso,
“cada qual tenha vista não os seus próprios interesses e, sim, os dos
outros; dedicando-se, mutuamente, á estima que se deve em Cristo Jesus” (Fl
2,4-5). O orgulho leva a decadência pessoas e instituições. A máquina da
propaganda religiosa, com a soberba do triunfalismo e o interesse do líder pelo
showbizz, leva a trair o Evangelho de Jesus Cristo.
Pe. Inácio José do Vale Escritor e
Conferencista. Professor de Historia da Igreja Especialista em Ciência Social
da Religião
Fonte:
Respostas Católicas
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