Cidade do Vaticano (RV) – O Papa
Francisco e seus colaboradores da Cúria Romana entraram no quarto dia de
reflexões propostas pelo Padre Ermes Ronchi durante os exercícios espirituais
de Quaresma, em Ariccia.
“Aquilo que mais fere o povo cristão – observou
Padre Ronchi – é o apego do clero ao dinheiro”, enquanto “o que faz o povo
cristão feliz é o pão compartilhado”.
Neste contexto, a transparência dos bens da Igreja,
a luta contra à fome e contra o desperdício de alimentos foram os principais
temas que conduziram a sexta meditação na manhã desta quarta-feira (09/03).
“Existem pessoas tão famintas que para elas Deus
não pode não ter outra forma a não ser a de um pão”. Estas foram as palavras
iniciais da meditação de Padre Ronchi. A vida tem início com a fome, disse,
“estar vivo é ter fome”. E se a visão se amplia, vê-se uma fome das massas, “o
assédio dos pobres”, milhões de punhos cerrados que pedem algo para comer, não
pedem “uma definição religiosa”.
- E a Igreja, como responde?
Não às cortinas de fumaça
As palavras do Evangelho com as quais Padre Ronchi
intercala as suas são aquelas da multiplicação dos pães e dos peixes e da
pergunta de Jesus aos discípulos: “Quantos pães vocês têm? Vejam!”. Jesus,
observa Padre Ronchi, “é muito prático”, pede “para fazer as contas”.
“Isso é pedido a todos os discípulos também hoje, e
a mim: quanto tens? Quanto dinheiro, quantas casas? Que padrão de vida? Vejam,
verifiquem. Quantos carros ou quantas joias em forma de cruz e de anéis? A
Igreja não deve temer a transparência, não deve ter nenhum medo da clareza
sobre os seus pães e peixes, seus bens. Cinco pães e dois peixes”.
Compartilhar é multiplicar
“Com a transparência se é verdadeiro. E quando se é
verdadeiro se é também livre”, afirma o pregador dos exercícios. Como Jesus,
que “não se fez comprar por ninguém”, e “jamais entrou nos palácios dos
potentes, somente quando prisioneiro”.
Quando não se tem, nota Padre Ronchi, procura-se
reter, como aquelas Ordens religiosas que tentam administrar os bens como se
isso pudesse produzir aquela segurança corroída pela crise das vocações. Ao
invés, a lógica de Jesus é aquela do dom. “Amar” no Evangelho se traduz em um verbo
seco: “dar”. O milagre da multiplicação diz isto, que Jesus “não se preocupa
com a quantidade” do pão, aquilo que quer é que o pão seja compartilhado:
“De acordo com uma misteriosa regra divina:
quando o meu pão passa a ser o nosso pão, também o pouco passa a ser
suficiente. E, ao contrário, a fome começa quando restrinjo o meu pão a
mim, quando o Ocidente saciado restringe seu pão, seus peixes, os seus bens
para si (...) Alimentar a terra, toda a terra, é possível, há pão em
abundância. Não é preciso multiplicá-lo, basta distribuí-lo, começando por nós.
Não são necessárias multiplicações prodigiosas, mas derrotar a Gula do
egoísmo, do desperdício de alimento e do acúmulo de poucos”.
“A fome dos outros tem direitos sobre mim”
“Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada,
sacudida e transbordante será colocada na dobra da vossa veste...”. Nesta
promessa de Jesus está contida, reitera Padre Ronchi, “a misteriosa, imensa
economia do dom e do cêntuplo, que é o diferencial de todas as balanças. Isto
“me conforta – disse – porque mostra que a verdade última segue a lógica do
dom, não aquela da observância”. E a “pergunta última será: doaste pouco ou
doaste muito à vida”. “Disto depende a vida, não dos bens”, conclui Padre
Ronchi. E são suficientes cinco pães doados para mudar o mundo:
“O milagre são os cinco pães e os dois peixes que a
Igreja nascente coloca nas mãos de Cristo confiando-se, sem calcular e sem
reter qualquer coisa para si e para o próprio jantar. É pouco mas é tudo aquilo
que tem, é pouco mas é o jantar completo dos discípulos, é uma gota no mar, mas
é aquela gota que pode dar sentido e pode dar esperança à vida”.
Fonte e imagem: News.va
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