O segundo degrau da
escadaria de um conhecido banco da cidade, foi o lugar escolhido por aquela
mendiga, idosa, magra, cabelo branco, que com sua voz monótona e a mão
esticada, apoiada sobre o joelho, repetia:
- Uma esmolinha, por
amor de Deus... Uma esmolinha, por amor de Deus...
Por aquela rua, estreita
e cheia de curvas, com o nobre nome de avenida, passa muita gente, quase sempre
as mesmas pessoas. Por isso, especialmente as mulheres, ao pararem para
encontrar na bolsa atulhada de coisas, uma moedinha, conversavam um pouco com
ela.
Um dia, voltando para a
minha residência, carregando as sacolas das compras, já perto da escadaria,
percebi, vindo pela mesma calçada, em direção contrária à minha, e
aproximando-se também da escadaria, uma jovem senhora acompanhada de uma menina
de uns 9 ou 10 anos. Provavelmente mãe e filha.
Pararam. A mãe abriu a
bolsa e deu uma moeda à criança. A menina adiantou-se e colocou cuidadosamente
a moeda na mão da mendiga. Depois sorriu para ela, levantou a mão até a altura
da cabeça da mendiga e acariciou, várias vezes, seus cabelos brancos. Depois
dando um saltinho voltou para junto da mãe e continuaram, lado a lado pela,
calçada cruzando-se comigo...
Ao passar diante da
mendiga de brancos cabelos olhei para ela. Pareceu-me que sorria acompanhando
com seus olhos cansados, o caminhar da menina... E fiquei pensando que ela
tinha gostado muito mais da caricia infantil que da moeda. A moeda podia servir
para alimentar seu estômago, mas a carícia certamente alimentou seu coração,
talvez vazio...
(Gerardo
Cabada)
Fonte
e imagem: Mural Joia
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