Nos
primeiros tempos após a reconquista de Granada pelos reis católicos, vários
devotos cristãos, membros de uma irmandade, mandaram construir nas imediações
da cidade uma ermida que, não se sabe por que motivo, puseram sob a proteção
das angústias de Nossa Senhora; mas é de crer que a idéia partisse de algum
confrade devoto das dores da Santíssima Virgem.
O
caso é que com este nome foi conhecida desde logo a ermida, e que os que haviam
mandado edificá-la resolveram colocar nela uma imagem de Nossa Senhora que
justificasse, com sua figura e aspecto, o seu nome.
Com
esse intento começaram a tomar as necessárias providências para encontrar um
artífice que fizesse a imagem conforme a idealizavam os confrades, e eis que
certa tarde entram na ermida dois belos rapazes conduzindo uma senhora coberta
com um manto preto. Chegados os três ao pé do altar, aí permaneceram em oração
durante muito tempo. Ao escurecer retiraram-se os dois moços, ficando a senhora
a orar; segundo Ihes parecia. Os confrades, apesar de estar quase na hora de
fechar a ermida, não quiseram perturbar a devoção da enlutada senhora e
decidiram esperar que acabasse suas orações.
Mas
o tempo passava, já era noite cerrada e a necessidade de fechar a ermida
impôs-se aos confrades, acima de toda a consideração… Um deles, portanto,
aproximou-se discretamente da senhora, anunciando-lhe que iam fechar a ermida,
mas não obteve resposta, continuando a senhora na mesma imobilidade.
O
confrade foi então dar conta aos companheiros da singularidade do caso e,
passado mais algum tempo, decidiram ir todos manifestar à misteriosa senhora a
necessidade de sair da capela.
Assim
o fizeram. Porém, não tendo sido atendidas as suas corteses observações, um dos
confrades se adiantou para chamar-lhe a atenção e, ao olhar para seu rosto,
ficou estupefato, e sem poder proferir uma palavra: a misteriosa senhora tinha
no rosto a mesma imobilidade que se notava em seu corpo! Em uma palavra: o que
os confrades tinham tomado por um ser humano era uma perfeitíssima escultura!
Seu
assombro não teve limites diante de tão extraordinária descoberta! Tinham em
sua presença a mais exata representação das angústias da Santíssima Virgem ao
ver e sentir os martírios da paixão e morte de seu Divino Filho.
Era
a imagem que tinham em sua mente concebido para ser colocada no altar de sua
ermida. O prodígio os deixou extáticos! Prodígio, sim, porque se via
claramente, em tudo aquilo, a intervenção milagrosa da providência de Deus.
Uns
vulgares escultores estavam em trato com a irmandade, que esperava sua resposta
estipulando as condições de seu trabalho e, uma vez realizado o contrato,
apressar-se-iam a executar a encomenda. Em vez disso, porém, dois moços
desconhecidos trazem a imagem, colocam-na de modo que possa confundir-se com
uma piedosa senhora em oração, enquanto desaparecem despercebidamente, evitando
chamar a atenção dos devotos que estão na ermida.
Não
é isso mais que suficiente para os confrades entenderem que a santa imagem que
tinham diante dos olhos era um presente do céu? Prostrados ante a sagrada
imagem, permaneceram longo tempo a orar. Uma vez satisfeito esse primeiro
impulso de sua devoção, partiram para a cidade, para dar notícia da prodigiosa
aparição.
Desde aquela hora não cessaram os fiéis de acorrer então para ver e
admirar a formosa imagem da Virgem angustiada, com o corpo perfeitíssimo de seu
Filho no regaço. Foi tal a concorrência que não foi possível entrarem todos de
uma vez naquele reduzido espaço, tendo sido preciso dividir os fiéis em turnos
para que pudessem todos contemplar as sagradas imagens.
Estabeleceu-se
rapidamente em Granada e em novos povos dos arredores o culto de Nossa Senhora
das Angústias na ermida construída para esse fim, e logo os milagres que nela
se operaram deram testemunho da procedência divina da sagrada imagem. Por esse
motivo tornou-se logo insuficiente a modesta capela; a primitiva irmandade,
composta então de um número reduzido de humildes devotos, aumentou logo em
número e qualidade de confrades, a ponto de tornar-se urna das mais importantes
de Granada.
Com
os novos elementos era fácil dotar a santa imagem com um templo suntuoso, e era
este o objetivo da irmandade. No entanto, uma piedosa concorrência se
estabeleceu entre os confrades e várias ordens religiosas, que desejavam tomar
a seu cargo o culto da milagrosa imagem. Interveio então o arcebispo de
Granada, o qual, inspirado por luzes do céu, determinou erigir a capela em
igreja paroquial, comprando para isso o terreno necessário. Seu desejo foi
realizado em 16O9, ano em que começou a funcionar a nova paróquia.
O
número dos paroquianos foi em princípio reduzido; mas o desejo de se porem
tanto quanto possível sob a proteção da santa imagem fez com que em pouco tempo
se povoassem os arredores. Em breve a paróquia de Nossa Senhora das Angústias
ficou sendo uma das mais numerosas de Granada, e sua demarcação uma das mais
formosas pela largura de suas ruas e beleza de seus edifícios.
Construída
a igreja paroquial, foi a santa imagem conduzida, em solene procissão, de sua
capela para a nova igreja e colocada no altar-mor. Desde então o Santuário de
Nossa Senhora das Angústias é o predileto dos piedosos granadinos, a tal ponto
que teve de ser estabelecido o costume de fechá-lo, à noite, muito mais tarde
que os demais, para dar-se maior desafogo a devoção dos fiéis.
A
Igreja, associando-se às manifestações do fiéis em honra de Nossa Senhora das
Angústias, enriqueceu com muitas indulgências a visita à sua igreja, e
ultimamente outorgou à santa imagem as honras da coroação, a qual foi realizada
em 20 de setembro de 1913.
Nossa
Senhora das Angústias continua a ser objeto de veneração dos fiéis, atendendo a
suas súplicas e velando pelo bem espiritual e material dos granadinos, que
sentem por sua excelsa patrona a mesma ardente devoção que os demais habitantes
da Espanha têm à Santíssima Virgem sob outros títulos.
Nossa
Senhora das Angústias, Rogai por nós!
A12.com
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