Cidade
do Vaticano (RV) – “O acesso à água potável e ao saneamento básico é
condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação
da pobreza e da fome”: palavras do Papa Francisco que estão contidas na
mensagem aos brasileiros por ocasião da Campanha da Fraternidade 2016. O
tema este ano é “Casa comum: nossa responsabilidade”.
No texto, o Pontífice recorda que se trata da
quarta edição ecumênica da Campanha e que, desta vez, cruza as fronteiras para
uma parceria com os católicos alemães, através da Misereor (instituição da
Conferência Episcopal Alemã para a cooperação para o desenvolvimento).
Comentando o tema escolhido sobre saneamento
básico, Francisco convida todos a se empenharem com políticas públicas e
atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de Casa Comum.
Superação da injustiça social
“O acesso à água potável e ao saneamento básico é
condição necessária para a superação da injustiça social e para a erradicação
da pobreza e da fome, para a superação dos altos índices de mortalidade
infantil e de doenças evitáveis, e para a sustentabilidade ambiental”, escreve
o Papa.
Citando sua Encíclica Laudato si, Franscisco
recorda que a grave dívida social para com os pobres é parcialmente saldada
quando se desenvolvem programas para prover de água limpa e saneamento as
populações mais pobres, evidenciando o nexo que há entre a degradação ambiental
e a degradação humana e social.
“Aprofundemos a cultura ecológica”, pede o
Pontífice. “Ela não pode se limitar a respostas parciais, como se os problemas
estivessem isolados. Insisto que o rico patrimônio da espiritualidade cristã
pode dar uma magnífica contribuição para o esforço de renovar a humanidade. Eu
os convido a redescobrir como nossa espiritualidade se aprofunda quando
descobrimos que Jesus quer «que toquemos a carne sofredora dos outros»
(Evangelii gaudium, 270), dedicando-nos ao «cuidado generoso e cheio de
ternura» (Laudato si’, 220) de nossos irmãos e irmãs e de toda a criação.
Eis a íntegra da mensagem de Francisco.
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Em sua grande misericórdia, Deus não se cansa de
nos oferecer sua bênção e sua graça e de nos chamar à conversão e ao
crescimento na fé. No Brasil, desde 1963, se realiza durante a Quaresma a
Campanha da Fraternidade. Ela propõe cada ano uma motivação comunitária para a
conversão e a mudança de vida. Em 2016, a Campanha da Fraternidade trata do
saneamento básico. Ela tem como tema: «Casa comum, nossa responsabilidade». Seu
lema bíblico é tomado do Profeta Amós: «Quero ver o direito brotar como fonte e
a justiça qual riacho que não seca» (Am 5,24).
É a quarta vez que a Campanha da Fraternidade se
realiza com as Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs
do Brasil (CONIC). Mas, desta vez, ela cruza fronteiras: é feita em conjunto
com a Misereor, iniciativa dos católicos alemães que realiza a Campanha da
Quaresma desde 1958. O objetivo principal deste ano é o de contribuir para que
seja assegurado o direito essencial de todos ao saneamento básico. Para tanto,
apela a todas as pessoas convidando-as a se empenharem com políticas públicas e
atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa
Comum.
Todos nós temos responsabilidade por nossa Casa
Comum, ela envolve os governantes e toda a sociedade. Por meio desta Campanha
da Fraternidade, as pessoas e comunidades são convidadas a se mobilizar, a
partir dos locais em que vivem. São chamadas a tomar iniciativas em que se unam
as Igrejas e as diversas expressões religiosas e todas as pessoas de boa
vontade na promoção da justiça e do direito ao saneamento básico. O acesso à
água potável e ao esgotamento sanitário é condição necessária para a superação
da injustiça social e para a erradicação da pobreza e da fome, para a superação
dos altos índices de mortalidade infantil e de doenças evitáveis, e para a
sustentabilidade ambiental.
Na encíclica Laudato si’, recordei que «o acesso à
água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal,
porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o
exercício dos outros direitos humanos» (n. 30) e que a grave dívida social para
com os pobres é parcialmente saldada quando se desenvolvem programas para
prover de água limpa e saneamento as populações mais pobres (cf. ibid.). E,
numa perspectiva de ecologia integral, procurei evidenciar o nexo que há entre
a degradação ambiental e a degradação humana e social, alertando que «a
deterioração do meio ambiente e a da sociedade afetam de modo especial os mais
frágeis do planeta» (n. 48).
Aprofundemos a cultura ecológica. Ela não pode se
limitar a respostas parciais, como se os problemas estivessem isolados. Ela
«deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa
educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao
avanço do paradigma tecnocrático» (Laudato si’, 111). Queridos irmãos e irmãs,
insisto que o rico patrimônio da espiritualidade cristã pode dar uma magnífica
contribuição para o esforço de renovar a humanidade. Eu os convido,
principalmente durante esta Quaresma, motivados pela Campanha da Fraternidade
Ecumênica, a redescobrir como nossa espiritualidade se aprofunda quando
superamos «a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das
chagas do Senhor» e descobrimos que Jesus quer «que toquemos a carne sofredora
dos outros» (Evangelii gaudium, 270), dedicando-nos ao «cuidado generoso e
cheio de ternura» (Laudato si’, 220) de nossos irmãos e irmãs e de toda a
criação.
Eu me uno a todos os cristãos do Brasil e aos que,
na Alemanha, se envolvem nessa Campanha da Fraternidade Ecumênica, pedindo a
Deus: «ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto,
a reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas no nosso
caminho para a vossa luz infinita. Obrigado porque estais conosco todos os
dias. Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz»
(Laudato si’, 246). Aproveito a ocasião para enviar a todos minhas cordiais
saudações com votos de todo bem em Jesus Cristo, único Salvador da humanidade e
pedindo que, por favor, não deixem de rezar por mim!
Vaticano, 22 de janeiro de 2016.
Fonte e imagem: News.va
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