A invenção da ciência é uma complexa artimanha da
modernidade.
Somente com a noção cartesiana de que o conhecimento é diferente da emoção, e que, portanto, a mente independe do corpo, foi possível produzir o conhecimento científico. Esterelizado, livre da contaminação das emoções. Livre de tendenciosismos, da mácula da magia, do sexto sentido. Sua única tendência é à perfeição.
Invenção iluminada esta, não?
A escola, com E maiúsculo, instituição, assume seu formato atual a partir desta base científica do conhecimento.
O anúncio do “OMO multi-ação” com seu locutor de jaleco branco é um símbolo da validade destes conhecimentos.
Somente uma ciência professada por cientistas, aqueles de jalecos; doutores, aqueles em frente às prateleiras de livros; por juristas de toga, ou especialistas das mais diversas especialidades inúteis, é a verdadeira ciência.
Ao comum não cabe a ciência, a verdade, a neutralidade estéril que o conhecimento exige para ser válido na modernidade. O comum é leigo, depende de um especialista, numa lógica de resva de mercado, precisa contratar um especialista para todo assunto alvo de especialidade.
De que valem as cosmologias (ou filosofias) indígenas, os saberes populares do caboclos, das parteiras tradicionais, as ervas dos raizeros, ou as rezas das mães de santo? São rudimentariedades para a escola moderna, ocidental.
Rubens Paiva em descontraida reflexão afirma que uma escola sem um professor de história de esquerda é uma escola sem pátio, sem recreio, sem ideias[1]. Também, mas quem disse, por outro lado, que uma escola precisa ter pátio, recreio e sempre cada vez mais ideias – aquelas que tem aplicabilidade prática, ou seja, de mercado? Opa! O saldo foi grande?
Mas é isso mesmo. Por que as aulas tem que ter 45 minutos? As turmas 45 alunos? Quem não passa é reprovado, e não auxiliado? O próprio MEC atualmente faz uma campanha contra a “indisciplina” em sala de aula, dizendo que o professor (e espero que a professora também) gasta 20% de seu tempo com a “indisciplina” de seus alunos. Mas, a indisciplina do aluno é um problema dos alunos, ou um problema da escola? Se aula não fosse algo chato, haveria indisciplina? E o próprio ministério ainda afirma que educação não é brincadeira. Como se brincadeira fosse algo ruim, ou se educação nunca pudesse ser algo bom.
A invenção da escola, enfim, merece ser repensada, na mesma medida que a ciência é limitrofe para identificar os limites do seu conhecimento, e reconhecer que estar longe da perfeição e sabê-lo é mais importante que estar próximo, a escola precisa perceber-se como incompleta, como instrumento, o local de abertura dos campos de saber e nunca de seu fechamento.
Uma escola que se pense útil, deve ir além da ciência, estar aberta às limitações, erros, preconceitos e defeitos da ciência. E para isso tem que ser apta a trabalhar com todas ideologias possíveis, de forma inclusiva e reflexiva, e nunca estéril.
A separação da mente e do corpo, des-subjetivou o corpo, permitindo que o mesmo fosse tratado à parte da mente, como se este suportasse a fome, a obesidade, a luxúria, o estupro, sua transmutação em mercadoria, sua putrefação, e nada disso atingisse a mente. Como se fosse realmente possível um mundo objetivisado (ou des-subjetivisado, logo, sem gente) e um conhecimento igualmente objetivo.
A maior descoberta científica dos últimos tempos é que não há conhecimento objetivo, nem mesmo das mais exatas das matérias, como nos provoca a física quântica.
A escola, a direita raivosa, e até mesmo parte da esquerda têm que descobrir que não descobriram tudo.
Somente com a noção cartesiana de que o conhecimento é diferente da emoção, e que, portanto, a mente independe do corpo, foi possível produzir o conhecimento científico. Esterelizado, livre da contaminação das emoções. Livre de tendenciosismos, da mácula da magia, do sexto sentido. Sua única tendência é à perfeição.
Invenção iluminada esta, não?
A escola, com E maiúsculo, instituição, assume seu formato atual a partir desta base científica do conhecimento.
O anúncio do “OMO multi-ação” com seu locutor de jaleco branco é um símbolo da validade destes conhecimentos.
Somente uma ciência professada por cientistas, aqueles de jalecos; doutores, aqueles em frente às prateleiras de livros; por juristas de toga, ou especialistas das mais diversas especialidades inúteis, é a verdadeira ciência.
Ao comum não cabe a ciência, a verdade, a neutralidade estéril que o conhecimento exige para ser válido na modernidade. O comum é leigo, depende de um especialista, numa lógica de resva de mercado, precisa contratar um especialista para todo assunto alvo de especialidade.
De que valem as cosmologias (ou filosofias) indígenas, os saberes populares do caboclos, das parteiras tradicionais, as ervas dos raizeros, ou as rezas das mães de santo? São rudimentariedades para a escola moderna, ocidental.
Rubens Paiva em descontraida reflexão afirma que uma escola sem um professor de história de esquerda é uma escola sem pátio, sem recreio, sem ideias[1]. Também, mas quem disse, por outro lado, que uma escola precisa ter pátio, recreio e sempre cada vez mais ideias – aquelas que tem aplicabilidade prática, ou seja, de mercado? Opa! O saldo foi grande?
Mas é isso mesmo. Por que as aulas tem que ter 45 minutos? As turmas 45 alunos? Quem não passa é reprovado, e não auxiliado? O próprio MEC atualmente faz uma campanha contra a “indisciplina” em sala de aula, dizendo que o professor (e espero que a professora também) gasta 20% de seu tempo com a “indisciplina” de seus alunos. Mas, a indisciplina do aluno é um problema dos alunos, ou um problema da escola? Se aula não fosse algo chato, haveria indisciplina? E o próprio ministério ainda afirma que educação não é brincadeira. Como se brincadeira fosse algo ruim, ou se educação nunca pudesse ser algo bom.
A invenção da escola, enfim, merece ser repensada, na mesma medida que a ciência é limitrofe para identificar os limites do seu conhecimento, e reconhecer que estar longe da perfeição e sabê-lo é mais importante que estar próximo, a escola precisa perceber-se como incompleta, como instrumento, o local de abertura dos campos de saber e nunca de seu fechamento.
Uma escola que se pense útil, deve ir além da ciência, estar aberta às limitações, erros, preconceitos e defeitos da ciência. E para isso tem que ser apta a trabalhar com todas ideologias possíveis, de forma inclusiva e reflexiva, e nunca estéril.
A separação da mente e do corpo, des-subjetivou o corpo, permitindo que o mesmo fosse tratado à parte da mente, como se este suportasse a fome, a obesidade, a luxúria, o estupro, sua transmutação em mercadoria, sua putrefação, e nada disso atingisse a mente. Como se fosse realmente possível um mundo objetivisado (ou des-subjetivisado, logo, sem gente) e um conhecimento igualmente objetivo.
A maior descoberta científica dos últimos tempos é que não há conhecimento objetivo, nem mesmo das mais exatas das matérias, como nos provoca a física quântica.
A escola, a direita raivosa, e até mesmo parte da esquerda têm que descobrir que não descobriram tudo.
Marcel Farah
Imagem Google
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