A primeira viagem de Jesus fora do território da
Galileia foi até uma cidade da Síria denominada Tiro -. uma região extremamente
paganizada, onde a idolatria multiplicava-se a olhos vistos.
O porto marítimo mais famoso das antigas terras da
Bíblia estava situado há trinta e dois quilômetros ao sul de Sidon. A cidade de
Tiro contava com dois portos: um situado ao norte e o outro ao sul. Seus muros
eram de grande altura.
Ali os artesãos fabricavam artigos e diferentes
produtos artísticos de bronze e de prata, e preparavam a tinta púrpura que
tornou Tiro, famosa. Em conseqüência deste comércio crescente e próspero com a
presença constante de mercadores das terras do Mediterrâneo, Tiro converteu-se
em uma bem povoada e afamada cidade.
“Saindo
dali foi para o território de Tiro. Entrou numa casa e não queria que ninguém
soubesse; mas não conseguiu permanecer oculto”.
Nas entrelinhas deste preâmbulo, descobre-se que
Jesus, desgastado pelas idas e vindas das viagens missionárias, desejava
repousar um pouco num território que julgava não ser incomodado e onde poderia
recobrar forças e levar adiante o anúncio do Reino “às ovelhas perdidas da casa de
Israel”.
“Pois logo em seguida, uma mulher cuja filha
estava possuída por um espírito impuro, ouvindo falar de Jesus, veio e
atirou-se a seus pés”. Pois, logo em seguida... Mal havia chegado, mal
pusera os pés naquela casa onde supostamente iria repousar o corpo cansado após
tantas e tantas caminhadas, havia sido descoberto por uma mulher sírio-fenícia,
uma mulher pagã, idólatra, que prestava culto e reverência a outros deuses e deusas.
_ Qual o motivo que a havia trazido até Jesus? Sua filha era possuída por um
espírito impuro. E o que isto representava dentro daquela sociedade? No seus
excelente livro – Jesus Antes do Cristianismo – Albert Nolan nos explica. “Para
o judeu e para o oriental pagão, o corpo é a morada de um espírito. Deus sopra
o espírito para dentro de um homem, para fazê-lo viver. Ao morrer, este
espírito deixa o corpo. Durante a vida outros espíritos poderiam também habitar
o corpo de uma pessoa. – seja espírito bom (o Espírito de Deus) ou espírito
mau, impuro, um demônio. Essa condição poderia ser observada pelo comportamento
da pessoa. Sempre que uma pessoa não estivesse ‘em si’,estivesse ‘fora de si’ e
parecesse ter perdido o controle de si mesma, então se considerava, é óbvio,
que alguma coisa havia entrado nela. Hoje em dia ainda dizemos: _ O que foi que
deu nele? Aos olhos de um orienta,l não é o espírito próprio do homem que está
agindo então. Está possuído por algum outro espírito. Dependendo da maneira como
se avalia o seu comportamento estranho, seria chamado de espírito bom ou
espírito mau. Assim, o comportamento extraordinário e os lampejos desusados de
percepção por parte de um profeta (especialmente se entrasse em transe), seriam
definidos como possessão pelo Espírito de Deus/ enquanto o comportamento
patológico das pessoas mentalmente doentes, seria definido como possessão por
espírito mau”.
A verdade é que a menina estava doente, atormentada
e sua mãe ouvira falar de Jesus. E nesse “ouvir falar” escondem-se curas,
milagres, libertações, sinais prodigiosos realizados pela presença daquele
Galileu. E a chama que ainda fumegava reacendeu no seu coração. Ela tomou a
decisão. Veio. Quebrou o protocolo. Teve a coragem que nenhum filho de Israel
havia tido. E frente a frente com Jesus, atirou-se a seus pés.
“Atirou-se a seus pés e lhe rogava que
expulsasse o demônio de sua filha”. Era a oração da humildade, da
entrega e da súplica. Naquele “atirar-se aos pés de Jesus” ela
reconhecia dali por diante e de uma vez por todas. O Senhorio dele na sua vida
e na vida de sua filha. “Senhor, expulsa o demônio da minha filha! Tu
tens este poder. Os deuses e deusas a quem eu servi, jamais poderiam realizar o
que tu realizas. Eu te suplico: Cura minha filha!”
As palavras pronunciadas naquele momento por Jesus,
deixariam qualquer um de nós abismados, incrédulos, boquiabertos,
desencorajados. Ele dizia: “Deixa primeiro que os filhos se saciem porque não é
bom tirar o pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos”. Ela, porém, lhe
respondeu: “É verdade Senhor; mas também os cachorrinhos comem as migalhas que
caem das mesas dos seus donos!” Que mulher extraordinária! Que mulher de fé! Na
sua atitude de enfrentamento e na sua resposta, simplesmente ela vencera Jesus.
A sua determinação, obstinação, perseverança, humildade, fizeram-na uma
vitoriosa. Vitória reconhecida pelo próprio Jesus quando lhe diz: “Pelo que
disseste, vai, o demônio saiu da tua filha!” Ela voltou para casa e encontrou a
criança atirada sobre a cama. E o demônio tinha ido embora.
Quantos cristãos, católicos praticantes engajados
em movimentos e ministérios da Igreja, teriam o comportamento da cananéia?
Mulher pagã, adoradora de outras entidades, com uma filhinha enferma mentalmente
carregando uma grande tristeza no coração, sem saber mais o que fazer, mas sem
se desesperançar, ouviu falar, o-u-v-i-u
f-a-l-a-r de Jesus e mudou, m-u-d-o-u completamente de atitude. Quantos
cristãos católicos, vivendo situação semelhante, conhecendo Jesus e
experienciando em suas vidas o seu poder, mudaram de atitude também?! Ouviram
falar que no centro espírita tem um “médium” fenomenal que é capaz de realizar
prodígios e correm para lá; ouviram dizer que a mãe Nana realiza “trabalhos”
para o marido deixar de beber, e a correria é uma só; foi comentado numa roda
de amigos que se você estiver “apertado financeiramente”, o remédio está na
reza do pai Ambrósio: no outro dia você amanhece riquinho da silva. Que
pena!... Que pena!... Uma mulher pagã passando a perna em você! Que ela lhe
ensine a confiar em Jesus da maneira que ela confiou; que ela lhe ensine a
correta decisão, a decisão que ela tomou; que ela lhe ensine a ir ao encontro
de Jesus, mesmo que para isso seja necessário quebrar o protocolo; que ela lhe
ensine a atirar-se aos pés daquele que tudo pode, porque ele é o Deus do
impossível; e por fim, que ela lhe ensine o caminho da determinação, a coragem
da verdade e a vida da humildade, para que, assim, você possa reencontrar
novamente Aquele que é a determinação do seu caminho, a verdade da sua coragem
e a humildade da sua vida. São palavras e gestos que curam o corpo, a alma e o
coração.
(Mc 7,24-30)
Paze Luz
Antonio Luiz Macêdo
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